sexta-feira, 4 de abril de 2008

O Yoga da Natureza

(Glossário com palavras em Sânscrito ao fim do texto)

Desde tempos imemoráveis, quando os Rigvedas eram tecidos nas altas e frias montanhas dos Himalaias e no Vale do Indo, yogues, rishiis e xamãs viviam em contato íntimo com a Natureza. Imersos em profunda contemplação, mergulhavam nas profundezas de suas mentes, despertando percepções cada vez mais refinadas sobre si mesmos, sobre o funcionamento de seus órgãos físicos e sutis. Com seus ouvidos aguçados pelo profundo silêncio, escutavam o inaudível – sons secretos do desabrochar de pétalas capazes de fazer flutuar a natureza das emoções e dos pensamentos. 

A imensa serenidade dessas presenças ali atraía animais e bestas, e viviam em profunda harmonia e mútua observação sob a crua lei de Prakrit. Desta estreita relação, um ‘liila’ surgiu, um jogo-dança de imitações entre observador e observado, uma brincadeira mágica que perduraria até os tempos chamados hoje, aqui e agora.

Ao término do liila, quando de volta ao silêncio, lótus desabrochavam com uma nova canção; tons que faziam flutuar a mente e até a levava à suspensão. Outros agora eram os pensamentos e as emoções, e outra era também a profundidade da percepção.

Mestre conta pra discípulo o que sentiu e ouviu, e de boca pra ouvido inicia-se uma nova transmissão: flexões, torções, movimentos, hora de animais, hora da água, dos astros e dos ventos, sobre árvores, folhas e rochedo a ciência das posturas confecciona-se pelo tempo... nascem asanas, pranayamas, mudras, dharanas e dhyanas e outros saberes que pela história se esqueceram.

Sadashiva, o avatar príncipe e guerreiro, dedica-se a juntar todo este conhecimento, montando uma prática capaz de deixar sutil até o homem mais grosseiro. De tanto a tudo imitar, soube que de tudo havia em si – dentro do corpo e da mente, coube de repente o Universo inteiro. Num yoga de êxtase, o Samadhy convergiu Criador e criatura numa experiência indescritível e única que da memória humana jamais se apartou, a saudade de retorno à Satya, do atman, a verdadeira casa.

Acabaram-se então as asanas, os mudras e as sagradas práticas? Fez o tempo o seu tratado, selado e fechado para pelas gerações para sempre ser copiado? Penso que não. Selado e fechado foram nossos sentidos, pois compramos tudo enlatado. Ao abandonar a fonte de inspiração, vivemos das lembranças de quem as tiveram... talvez nosso próprio atman antes de adormecer. Todavia algo me diz, que se do sono despertarmos e à Mãe Natureza novamente nos juntarmos, um novo yoga há de surgir, capaz de nos fazer lembrar até do não vimos - das sagradas tradições, do Jardim Primordial e até da origem do Universo.

Glossário:
Asanas: posturas de yoga;
Atman: alma individual;
Dharana: concentração;
Dhyana: meditação;
Liila: jogo cósmico; o esconde-esconde entre criatura e criador, maia, a ilusão da separação;
Mudra: gesto ou selo;
Prakrit: a força da Natureza, a Criação – Brahma, o Todo, é composto de Shiva, a Consciência e Prakrit (ou Shakti), a Energia, as coisas criadas;
Pranayamas: técnicas de respiração;
Rigvedas: escrituras sagradas mais antigas da Índia e talvez do mundo;
Rishiis: sábios santo que contribuem para o avanço do Dharma, da evolução da vida;Samadhy: liberação, iluminação, salvação – um estado de consciência além da mente.

Texto por: Satyavan - Rogério Meggiolaro (Copyleft - pode ser copiado desde que a fonte seja citada.) email. satyavancyber@yahoo.com.br

Princípios Éticos do Yoga

O ingresso no universo do Yoga, como no de tantos outros sistemas Orientais desta natureza, requer o conhecimento e a prática de certos preceitos éticos. Este é um compromisso firmado entre o praticante e sua própria consciência em utilizar todos os poderes adquiridos para o bem estar de todos os seres viventes. Estes preceitos são:

Yama – Controle / Ética Social Ahimsa – Não ferir ou magoar, intencionalmente, qualquer ser, seja por pensamento, palavra ou ação.

Satya – Manter-se no espírito da verdade, tendo em vista o bem estar do próximo.

Asteya – Não se apossar, física ou mentalmente, de objetos alheios; nem, por omissão, privar outros do que lhes é devido.

Brahmacharya – Manter a ideação na Consciência Suprema. Considerar tudo ao seu redor como uma manifestação da Consciência Suprema.

Aparigraha – Não acumular bens desnecessários; não ser indulgente consigo próprio.

Niyama – Auto-Controle / Ética Pessoal

Shaoca – Limpeza do corpo e da mente. A limpeza da mente é conseguida fazendo-se serviço ao próximo, expressando-se amabilidade aos seres vivos e esforçando-se para manter a mente no fluxo espiritual.

Santosa – Manter o equilíbrio e o contentamento em quaisquer circunstâncias.

Tapah - Servir a humanidade visando atingir a meta espiritual.

Svadhyaya – Desenvolver a prática da leitura espiritual, procurando compreender claramente o significado dos ensinamentos.

Iishvara Pranidhana – Fazer da realização espiritual a meta suprema da vida e esforçar-se sinceramente para alcança-la através das práticas espirituais.

"Sem Yama e Niyama, Sadhana (prática espiritual) é uma impossibilidade, por isso todo Caminhante da Bem-Aventurança deve seguir Yama e Niyama." Shrii Shrii Anandamurti

Texto por: Satyavan - Rogério Meggiolaro (Copyleft - pode ser copiado desde que a fonte seja citada.) email. rogeriomgs@gmail.com

Um tanto de saber sobre o Yoga

Definir o Yoga ou versar sobre esta milenar arte é trabalho árduo, todavia deveras prazeroso. Sua longevidade e permanente presença no tempo falam por si só sobre a riqueza e significância destes saberes que nasceram no Oriente antigo, mais precisamente onde hoje se situa a Índia e seus países visinhos.

Hoje, quando pensamos sobre o Yoga no Ocidente, nossas mentes imediatamente se remetem a uma atividade física cheia de complexas posturas, à meditação, às práticas de despertar poderes latentes da mente e até mesmo aos atos corajosos dos faquires. Tudo isso certamente faz parte do emaranhado universo do Yoga, mas nenhuma destas pequenas frações pode definir o Todo que as contém.

A palavra Yoga, em Sânscrito, significa ‘União’ ou ainda ‘Unificação’. Este significado pode ser compreendido através de muitas lentes, todavia me limitarei a citar um Sutra, um ‘verso’, do Mestre Yogue Shrii Shrii Anandamurti que define o Yoga de forma sintética e profunda:

‘Samyogo yogo ityukto jiivátmá paramátmánah’
Quando a consciência unitária e a Consciência Suprema se fundem em uma, isto é verdadeiramente Yoga.

Assim sendo, Yoga se trata de um sistema de práticas que visa promover a união entre o indivíduo e seu Criador. Acima de qualquer esfera, o Yoga é uma prática espiritual, mística e de natureza transcendental. Há quem considere o Yoga como um caminho para a iluminação da consciência; há, entretanto, quem entenda o Yoga como a própria iluminação.

Seja qual for o nível de aprofundamento de cada um neste vasto sistema de práticas, estas ‘unificações’ hão de acompanhar qualquer praticante: seja a simples união da respiração com os movimentos, seja a união entre o que se pensa, o que se fala e a forma como se age, como uma profunda sensação de unidade com toda a Natureza manifesta, ou seja ainda como a união mística entre o pequeno eu com o Grande Eu Sou, esteja certo de que muitas das idiossincrasias que hoje permeiam a complexa mente humana serão integradas e encontrarão uma profunda sensação de paz e equilíbrio.

Alguns Yogas

Cada escola de Yoga enfatiza um sistema de práticas para atingir determinado fim. Conheça alguns deles:

Hatha Yoga – visa o bem estar do corpo e da mente por meio de práticas físicas como ‘asanas’ (posturas), alimentação, limpezas e purificações.

Raja Yoga – o Yoga Real, sistema de práticas mentais como concentração, atenção, percepção e acima de todas, a meditação.

Jnana Yoga – o Yoga do conhecimento através da discriminação entre o que é eterno e permanente e o que é transitório e passageiro. Trata-se de um sistema altamente filosófico.

Karma Yoga – o Yoga da ação. Por meio de suas práticas, o aspirante se devota a agir sem esperar colher o resultado de suas ações, como se fosse simplesmente um ‘braço do Supremo’.

Bhakti Yoga – o Yoga do amor, conhecido por ser o caminho mais rápido para a iluminação, pois busca envolver-se com tudo o que existe no universo com a ideação de que cada ser ou objeto é uma manifestação do próprio Ser Supremo.

Mantra Yoga – o yoga dos sons, se tratando de uma pesquisa profunda e poderosa sobre as vibrações sonoras por detrás de tudo que existe.

Yantra Yoga – o Yoga das formas, estuda a influência das mais diversas geometrias sobre a mente humana. Dentro deste conhecimento estão as Mandalas e os símbolos sagrados de muitas tradições espirituais do planeta.

Tantra Yoga – talvez o mais antigo dos Yogas, nascido de um xamanismo remoto, tem como objetivo a expansão da mente e a liberação de todas as amarras, credos, dogmas e limitações que encobrem a natureza da verdadeira essência de tudo o que há. É o caminho dos guerreiros, a luta da vida contra a morte, da verdade sobre a ignorância.

Kundalinii Yoga – sistema de elevar a energia primordial que reside na última vértebra da coluna, através dos centros psíquicos – chakras – até que alcance o mais elevado, situado no topo da cabeça. Quando isso se dá, acontece o Samadhi, ou Iluminação, um estado além da compreensão da mente.


 Texto por: Satyavan - Rogério Meggiolaro (Copyleft - pode ser copiado desde que a fonte seja citada.) email. rogeriomgs@gmail.com