terça-feira, 2 de julho de 2013

Mahamudra de Tilopa

A Instrução Mahamudra para Naropa em Vinte e Oito Versos

A Instrução Mahamudra para Naropa em Vinte e Oito Versos foi transmitida pelo grande mestre e mahasiddha Tilopa ao pandita, sábio e siddha de Kashmir, Naropa, próximo aos bancos do rio Ganges, após completar suas doze austeridades. Naropa transmitiu os ensinamentos em sânscrito, na forma de vinte e oito versos, ao grande tradutor Marpa Chökyi Lodrö, que fez uma tradução livre deste texto em sua vila, Pulahari, na fronteira do Tibet com o Butão.

Homenagem aos Oitenta e Quatro Mahasiddhas!

Homenagem ao Mahamudra!

Homenagem à Vajradakini!



[1] O Mahamudra não pode ser dito, mas ó inteligente Naropa,

Como você passou pela austeridade rigorosa,

Com tolerância no sofrimento e devoção ao mestre,

Ó abençoado, guarde esta instrução secreta em seu coração.


[2] O espaço é suportado em algum lugar? Sobre o que ele repousa?

Como o espaço, o Mahamudra não depende de coisa alguma;

Relaxe e se assente no continuum da pureza indestrutível

E, com as amarras soltas, a liberação é certa.


[3] Olhando concentradamente para o céu vazio, a visão cessa;

Do mesmo modo, quando a mente olha para a própria mente,

Termina o treinamento do pensamento discursivo e conceitual

E a iluminação completa é obtida.


[4] Assim como a neblina da manhã se dissolve no ar,

Indo a lugar nenhum mas cessando de ser,

As ondas da conceitualização — tudo criação da mente — se dissolvem

Quando você observa a verdadeira natureza de sua mente.


[5] O espaço puro não tem cor ou forma

E não pode ser manchado de preto ou branco;

Assim também, a essência da mente está além da cor e da forma

E não pode ser manchada por ações negras ou brancas.


[6] A escuridão de mil eras não tem poder

Para ofuscar a claridade de cristal do coração do sol;

E do mesmo modo, eras de samsara não têm poder

Para encobrir a luz clara da essência da mente.


[7] Apesar do espaço ser designado de vazio,

Na realidade ele é inexprimível;

Apesar da natureza da mente ser chamada de luz clara,

Sua própria atribuição é uma ficção verbal sem base.


[8] A natureza original da mente é como o espaço;

Ela permeia e abraça todas as coisas sob o sol.

Seja calmo e permaneça relaxado no conforto genuíno,

Seja quieto e deixe o som reverberar como um eco,

Mantenha silenciosa a sua mente e assista o fim de todos os mundos.


[9] O corpo é essencialmente vazio, como um tronco de junco,

E a mente, como o espaço puro, transcende absolutamente o mundo do pensamento;

Relaxe em sua natureza intrínseca, sem abandono ou controle —A mente sem objetivo é o Mahamudra

—E, com a prática perfeita, a iluminação suprema é obtida.


[10] A luz clara do Mahamudra não pode ser revelada

Pelas escrituras canônicas e tratados metafísicos

Do Mantravada, das Paramitas ou do Tripitaka;

A luz clara é encoberta pelos conceitos e idéias.


[11] Nutrindo preceitos rígidos, o verdadeiro samaya é enfraquecido,

Mas com a cessação das atividades mentais, todas as noções fixas se apaziguam;

Quando a maré do oceano é una com suas profundezas pacíficas,

Quando a mente nunca se desvia da verdade indeterminada e não-conceitual,

O samaya inquebrável é como uma lâmpada acesa na escuridão espiritual.


[12] Livre dos conceitos intelectuais, desaprovando os princípios dogmáticos,

A verdade de cada escola e escritura é revelada.


[13] Absorvido no Mahamudra, você está livre da prisão do samsara;

Equilibrado no Mahamudra, a culpa e a negatividade são consumidas;

E como um mestre do Mahamudra, você é a luz do Dharma.


[14] O tolo em sua ignorância, desprezando o Mahamudra,

Nada conhece além da luta na inundação do samsara.

Tenha compaixão por aqueles que sofrem de constante ansiedade!

Doente de um sofrimento inflexível e desejando a liberação, adira a um mestre,

Pois quando a bênção dele tocar o seu coração, a mente é liberada.


[15] Kyeho! Ouça com alegria!

O investimento no samsara é fútil; é a causa de cada ansiedade.

Já que o envolvimento mundano é inútil, procure o coração da realidade.


[16] Na transcendência das dualidades da mente, está a visão suprema;

Em uma mente calma e silenciosa, está a meditação suprema;

Na espontaneidade, está a atividade suprema;

E quando todas as esperanças e medos falecem, a meta é alcançada.


[17] Além de todas as imagens mentais, a mente é naturalmente clara:

Não siga outro caminho que não seja o dos buddhas,

Não aplique técnica alguma para obter a iluminação suprema.


[18] Kyema! Ouça com simpatia!

Com a sabedoria em seu lamentável predicamento mundano,

Percebendo que nada pode durar, que tudo é como um sonho,

Como uma ilusão sem significado, que provoca frustração e aborrecimento,

Retorne e abandone suas buscas mundanas.


[19] Corte o envolvimento com sua terra natal e seus amigos

E medite sozinho em um retiro na floresta ou na montanha;

Fique lá em um estado de não-meditação

E, atingindo o não-atingimento, você atinge o Mahamudra.


[20] Uma árvore estende seus galhos e põe folhas,

Mas quando sua raiz é cortada, sua folhagem seca.

Assim também, quando a raiz da mente é cortada,

Os galhos da árvore do samsara morrem.


[21] Uma única lâmpada elimina a escuridão de mil eras;

Do mesmo modo, um único lampejo da luz clara da mente

Apaga eras de condicionamento kármico e cegueira mental.


[22] Kyeho! Ouça com alegria!

A verdade além da mente não pode ser compreendida por qualquer faculdade mental;

O significado da não-ação não pode ser compreendido pela atividade compulsiva;

Perceber o significado da não-ação e do além-mente

Corta a mente em sua raiz e repousa na consciência nua.


[23] Permita que as águas barrentas da atividade mental se clareiem;

Refreie tanto a projeção positiva quanto a negativa —

Deixe as aparências sozinhas.

O mundo dos fenômenos, sem adição ou subtração, é o Mahamudra.


[24] A onipresente base não-nascida dissolve seus impulsos e delusões;

Não seja convencido ou calculista, mas repouse na essência não-nascida

E deixe se dissolver todos os conceitos de si mesmo e do universo.


[25] A mais elevada visão abre cada porta;

A mais elevada meditação sonda as profundezas infinitas;

A mais elevada atividade é não-governada, porém decisiva;

E a mais elevada meta é o ser comum, sem esperança ou medo.


[26] No começo, seu karma é como um rio caindo em um desfiladeiro;

No meio, ele flui como um rio Ganges serpenteando gentilmente;

E no fim, assim como um rio se torna um com o oceano,

Ele termina na consumação, como o encontro de mãe e filho.


[27] Se a mente for estúpida e você for incapaz de praticar estas instruções,

De reter a respiração essencial e expelir a seiva da consciência,

De praticar olhares fixos — métodos de focalizar a mente —,

Discipline-se até que o estado de consciência mental se estabeleça.


[28] Quando servir a uma consorte, a consciência pura do êxtase e da vacuidade surgirá.

Disposto na abençoada união da sabedoria e dos meios hábeis,

Envie a bodhichitta vagarosamente baixo, retenha-a, retraia-a para cima

E, conduzindo-a à fonte, sature o corpo inteiro.

Mas essa consciência surgirá apenas se o desejo e o apego estiverem ausentes.

Então, obtendo a jovialidade da vida longa e eterna, crescente como a lua,

Radiante e clara, com a força de um leão,

Você obterá rapidamente o poder mundano e a iluminação suprema.


Possa esta instrução essencial do Mahamudra Permanecer nos corações dos seres afortunados.