domingo, 22 de novembro de 2015

Amor - Verdade - Impermanência : Prema - Satya - Maya

Muito se fala sobre a supremacia do Amor (Prema, em Sânscrito) como a mais alta virtude humana. Dentro da cultura yóguica, todavia, há ainda uma virtude que se sobrepõe e alicerça o Amor, Satya.

Satya, comumente traduzido como Verdade, é a matéria prima do cosmos e da vida. É de Satya que tudo se origina. A raiz desta palavra é Sat, o princípio original da integridade e da unidade universal, o Absoluto. Seu antônio é Maya, Ilusão, que também pode ser compreendido como o princípio da Impermanência que subjuga todos os fenômenos à mutabilidade. Satya, a Verdade, permanece a mesma, imutável, testemunhando com absoluta benevolência o eterno processo de mutação do Universo.

Os yogues buscam se estabelecer em Satya, a Verdade Benevolente. Satya confere brilho e clareza ao Amor, Prema. Sem esta característica translúcida de Satya, o Amor é experienciado como um mero sentimento ou emoção e, mesmo que intenso, não tem consistência em si. O Amor com Satya opera como uma força benevolente e clara, desiludida, sem máscaras. 

Total imersão em Satya ou Sat, a Verdade ou o Absoluto, implica na dissolução do eu individual, o ego, no Oceano Infinito da Consciência Suprema, Brahma - estado conhecido como Samadhi ou Nirvana. No entanto, experiência cotidiana de Prema, o Amor, fluindo pelas correntes da Verdade, Satya, é dotada de transparência e clareza.

A Dança de Maya, a Impermanência
Estando nós imersos em Maya, a Impermanência, sofremos constantes modificações no âmbito do corpo, da mente e das emoções. Com isto, nossas necessidades e capacidades também mudam no decorrer do tempo, do lugar onde nos encontramos, da pessoa em quem nos tornamos e com as outras com quem compartilhamos a vida.

O exercício da auto-observação, da meditação e da introversão da mente confere ao aspirante a capacidade de lançar luz e clareza sobre esta realidade sempre cambiante, Estas mudanças podem gerar instabilidade momentânea, mas a familiaridade com Satya, a Verdade Permanente em si, o tranquiliza e propicia uma rápida adaptabilidade às nuances da vida: sabe que sua verdadeira identidade permanece intacta em Satya. 

Fique Tranquilo e Eu Sou Satya
Tendo atingido no seu desenvolvimento pessoal certa maturidade, consegue tanto aceitar a mudança como livrar-se dos medos, inseguranças e apegos, as raízes fundamentais do sofrimento da alma e liberta-se para viver a experiência de Satya Prema, o Amor Verdadeiro. 

A princípio, sente lampejos desta oitava maior do Amor, intercalados com seus sentimentos e emoções menores. Deixa tudo ser, permite tudo passar, aprende pacientemente a descansar mais e mais em Satya enquanto assisti o espetáculo incansável da dança da Impermanência, Maya, diante de si. 




BABA NAM KEVALAM - Satya é tudo o que há!

Namaskar
Satyavan

Caraguatatuba, 22/11/2015

sábado, 18 de julho de 2015

Três Estágios de Expansão da Mente


No texto de hoje, gostaria de refletir sobre três estágios de expansão da mente vivenciados pelos aspirantes espirituais em sua jornada rumo à auto realização.

O primeiro estágio de expansão da mente se refere a um certo êxtase diante da aquisição e reprodução de conhecimento. Aqui, o aspirante espiritual se depara com uma vasta quantidade de informações que apontam para a Meta Suprema. Ele ou ela sente uma forte necessidade de ler livros, participar de seminários e palestras, assistir documentários, fazer pesquisas sobre assuntos que discorram sobre as capacidades inerentes à mente. Se encanta o aspirante espiritual em saber que pode atingir estados muito superiores ao que se encontra no momento presente e, ao sentar em uma roda de amigos, deleita-se em citar as informações adquiridas, argumentar, parafrasear autores renomados. Sente a profunda necessidade de que os demais saibam "das coisas" e que saiam da ignorância. Este estágio é marcado pela “crença” a respeito de algo maior.

Há, no entanto, um momento em que percebe que toda a informação que adquiriu é, por si só, híbrida; não é capaz de o fazer avançar ou expandir de fato suas capacidades mentais. Acredita que pode avançar, mas se dá conta que desconhece os “meios” para o fazer. Percebe que acreditar e citar textos e autores é insuficiente para se auto realizar. Necessita descobrir as técnicas e os métodos que levaram tantos seres à auto realização. Dá-se, então, início ao caminho da disciplina, da técnica e do método – o caminho do Yoga.


Ao ser iniciado nas disciplinas yóguicas, o aspirante espiritual se vê diante de uma nova aventura, cheia de desafios, entre eles o de pôr em suspensão todas as suas crenças e conhecimentos adquiridos, atendo-se somente à auto-observação. Deve evitar a qualquer custo a tentação de formar ideias novas sobre si mesmo, sobre os outros, sobre o mundo – não lhe é mais permitido “crer”, somente observar, sentir, presenciar. Nota que necessita do conselho de yogues mais experientes para discernir de forma crítica sobre a legitimidade de seu avanço em contraste com a tendência inerente à auto ilusão, mecanismo clássico do funcionamento da mente humana. Não raro, encontrar-se-á em profunda solitude, comungando consigo mesmo e com a Consciência Suprema. Mesmo na companhia de outros se sentirá só, desejará estar só, e compreenderá que a profundidade e a velocidade de seu avanço dependem de seu recolhimento solitário e dedicação à autodisciplina. Nota que é a “sinceridade” de sua prática que lhe provê o magnetismo necessário para atrair os recursos para cada próxima etapa de seu progresso.

Este estágio pode durar algumas vidas, e culmina no auto aperfeiçoamento do Ser. Através da autodisciplina, o aspirante espiritual conquista a Natureza, os cinco elementos que compõe seu corpo e a matéria, os sentidos e converte sua mente da condição de traiçoeira para sua maior aliada, aniquilando sua força de auto boicote. Pela observação e experiência direta, compreende o funcionamento das Leis que regem a Vida e a Ordem Cósmica.

Como resultado de seu sincero esforço, aprende a receber instruções diretas da Mente Cósmica, a Entidade Suprema. É neste estado que se inicia a jornada Tântrica. O aspirante espiritual realiza agora que as disciplinas pessoais, por mais imprescindíveis que sejam, são também limitadas; que os métodos e técnicas são como roupas apertadas. Seu único Yoga se tornou o Bhakti, a Devoção e a Entrega completa ao Ser Supremo. Vence suas limitações auto impostas, e flui agora em um fluxo contínuo de Bem-Aventurança. Sua motivação maior se torna o serviço para o bem-estar de toda a criação. Seus olhos são livres de qualquer dualidade ou discriminação, em tudo o que pousam reconhecem o Uno Indivisível, seu Amante Supremo – O ama em tudo e em todos, deseja somente Lhe dar prazer. Tal é o terceiro estágio de expansão da mente de um aspirante espiritual. Este se encontra livre de todas as crenças e disciplinas. As utiliza somente para dar exemplos aos jovens aspirantes e os inspirar a desenvolver a prática sincera. Está apto a retornar para Casa, fundir-se com a Fonte, com o Uno Indivisível, todavia, por compaixão posterga sua liberação final. Deseja ardentemente que a todos os seres sejam garantidas a possibilidade e os recursos necessários para que transcendam as aflições advindas do nascimento, envelhecimento, da doença, da morte e do renascimento.

O Tantra é certamente o caminho de todos os Budas, o caminho sem caminho. Há somente o caminhante e a Consciência Suprema, e ambos unificados em Um só Ser. Este estado de auto realização é o direito de nascimento de todos os seres, o desiderato único de toda a criação. Todas as pessoas inteligentes se lembram disto a todo o tempo e aceleram o passo rumo à auto realização do Ser. Como ensina meu Amante Supremo, a vida humana é muito curta, portanto, aproveite cada oportunidade possível para desenvolver-se através de disciplinas e práticas espirituais.

BABA NAM KEVALAM – TUDO É O SER SUPREMO

Profundo Namaskar
Satyavan Rogério


Dedicado aos pés de lótus de meu Amado Anandamurti, para o bem de todos.