quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Os Estados de Êxtase e a Origem da Meditação

 Diferente do estudo arqueológico sobre os restos ósseos humanos mais remotos, passíveis de datação, os estados mentais dos nossos ancestrais pré-históricos perderam-se com eles pelos meandros do tempo. A evolução nos mostra que o desenvolvimento do cérebro se deu a partir de um acumulo de funções cada vez mais complexas sobre a estrutura cerebral de nossos antepassados pré-hominídeos, ou seja, sobre o complexo reptiliano, também chamado de cérebro límbico.

Em algum momento, experiências de êxtase foram vividas, deixando nessa estrutura cerebral ancestral impressões que, no tardar de nossa evolução alavancaram a sistematização de técnicas e métodos a partir dos quais tais estados pudessem ser revividos. Um dos mais sofisticados destes métodos conhecido hoje é a meditação.

Através da observação de povos que ainda nos dias de hoje vivem como na Idade da Pedra, como por exemplo, os habitantes do deserto de Kalahari ou os montanheses da Nova Guiné, povos caçadores e coletores cuja cultura permanece xamanística, extraímos pistas do nosso passado oculto e misterioso.

“É provável que muitas oportunidades ou situações tenham levado nossos ancestrais a descobrir que ao se fazer certas coisas, culminava-se em estados alterados de consciência, levando ao êxtase, por exemplo!”

“Os arqueólogos afirmam que somente a cerca de cinqüenta mil anos atrás a evolução humana atingiu a capacidade cerebral que persiste até hoje, todavia, a experiência extática possivelmente remonta a muito mais tempo do que isso.”

“Um evento datável dessa pré-história há de ter sido a domesticação do fogo, que se supõe haja ocorrido por volta de oitocentos mil anos atrás. Em suas cavernas os grupos proto-humanos tiveram fogueiras em torno das quais se aconchegavam durante as noites frias e amedrontadoras. Nessas ocasiões eles podem ter experimentado os primeiros êxtases. Os efeitos psicológicos do fato de ficarem sentados longas horas diante das fogueiras devem ter sido pronunciados. O fogo poderia tornar-se uma presença misteriosa, como provedor de conforto e proteção, até mesmo um ser ‘divino’. A focalização das labaredas bailarinas por longas horas, acrescida da suspensão de outros estímulos sensoriais, bem poderia ter produzido estados estáticos, cabendo às chamas afastar a consciência do seu padrão de luta-fuga, para um estado alterado, mais calmo, de repouso em vez de ansiedade.”

“Os estados meditativos exibem exatamente essa calma e podem ser produzidos por uma longa concentração num único objeto de atenção, o ‘objeto de meditação’.”

“O fato de tantas religiões primitivas terem usado o fogo no ritual e no simbolismo confirma o poderoso domínio que esse elemento exerce sobre a consciência humana, remanescentes das primeiras confrontações com essa ‘substância’ reveladora de mistério. Com efeito, o filósofo fenomenologista francês Gastón Bachelard dedicou um livro inteiro à análise do impacto psicológico do fogo (The Psychoanalysis of Fire, Boston, Beacon Press, 1964), onde concluiu:

“Estamos quase certos de que o fogo é precisamente o primeiro objeto, o primeiro fenômeno, sobre o qual a mente humana refletiu; entre todos os fenômenos, apenas o fogo é suficientemente prezado pelo homem pré-histórico para despertar nele o desejo do conhecimento, sobretudo porque acompanha nele o desejo do amor. Não há dúvida de que se tem proclamado amiúde que a conquista do fogo separou de uma vez por todas o homem do animal, mas talvez não se tenha notado que a mente em seu estado primitivo, a par da sua poesia e do seu conhecimento, desenvolveu-se na meditação diante de uma fogueira”. (Bachelard, pág. 55)

Além do êxtase gerado pela observação do fogo, podemos nos remeter ao silenciamento dos sentidos - e até mesmo dos pensamentos - de um caçador ante a um animal selvagem, imóvel, extático, alerta e, no entanto, pronto para agir. O próprio ato de fazer amor, que leva o ser humano ao abandono extático pós-orgasmo, que o deixa fora de si diante da consumação sexual. A própria resposta às doenças e aos estados traumáticos onde uma dor insuportável acomete um indivíduo, levando-o a rota de fuga do êxtase ou até para uma experiência fora do corpo.

O que desde a antiguidade se percebe, é que as pessoas que experimentavam tais projeções da consciência no êxtase se tornavam diferentes, com sua psique e seus poderes pessoais transformados, adotando, não raro, o papel de líderes e curadores de seus grupos, o xamã

“As culturas xamanísticas dão o mais alto valor a essas experiências de autotransformação extática. Ainda que possam ocorrer em anos muito tenros, proporcionam ao indivíduo um contato inesquecível com o ‘divino’ e com seu ‘poder’, iniciando-o assim na idade adulta. Sem esse contato a pessoa é considerada incompleta, incapaz de aproveitar as principais fontes do poder para o bem estar.”

“Por infelicidade não levamos as pessoas a essas experiências nem por meio da forma coerciva e inescapável de iniciação, como a que se praticava no templo grego de Elêusis – aonde os peregrinos iam uma vez na vida para que seus olhos se abrissem para a realidade extática dos mistérios da vida e da morte – nem por meio daquela que se exigia de todos os jovens, como na busca da visão xamânica, onde não alcançar o êxtase significava o ridículo social. Em conseqüência disso nossa psique permanece desequilibrada, capaz de ter experiências apenas de natureza estética e religiosa racional, ou pseudo racional.

Os povos arcaicos consideravam incompletos tais indivíduos, sem força, por carecerem da participação extática nas fontes fundamentais da vida, que eles chamavam ‘divino’ ou ‘reino do poder do espírito’. Enquanto a sua sensitividade permanecia fluída, eles levavam jovens a tentar as iniciações porque estes ainda não haviam desenvolvido a rígida organização psicológica imposta aos adultos mais moços, que tinham que se adaptar cada vez mais ao que Freud denominou o ‘princípio da realidade’.

Os povos arcaicos possuíam também um conhecimento incrivelmente sofisticado da flora e da fauna do seu meio ambiente, tendo descoberto plantas comestíveis, medicinais e psicoativas, que tinham funções específicas para a sua sobrevivência. O interessante é que ao descobrirem as plantas psicoativas, eles não as jogaram fora como inutilidade, mas colheram-nas com todo o cuidado, tratando-as como se fossem poderes sagrados que possibilitavam o acesso aos reinos estáticos do espírito e da força, usando-as como sacramentos rituais conducentes ao bem-estar. Além disso, as provas extraídas dos primeiros registros históricos (védicos, taoistas e de outras tradições locais) mostram que o uso dessas plantas foi tomado de empréstimo às culturas xamanísticas anteriores, por civilizações que se desenvolveram precocemente, como indica o complexo uso do 'soma/haoma' entre os povos indo-arianos (védicos) e indo-irânicos, e o grande interesse que os primeiros taoístas da China demonstravam por plantas que se supunha tivessem propriedades psicoativas, sem falar nas misteriosas poções ingeridas nos rituais iniciáticos de Elêusis, nos tempos gregos.


Os xamãs são os antepassados imediatos dos professores de meditação e dos mestres espirituais de que ouvimos falar na literatura primitiva.
(há ser continuado... O fim dos tempos védicos e a aurora dos yogues, que já não se valiam mais das plantas de poder para alcançar o êxtase meditativo.)

Texto organizado por Rogério Meggiolaro, Baseado na obra: "Do Xamanismo à Ciência" - Williard Johnson, Ed. Cultrix.

domingo, 6 de setembro de 2009

Os Quatro Acordos / The Four Agreements

1. Seja Impecável com sua Palavra:
Fale com integridade. Diga somente o que você quer dizer. Evite usar a Palavra para falar contra si mesmo ou para fofocar sobre outros. Use o poder de sua Palavra na direção do amor e da verdade.

2. Não Tome Nada Pessoalmente:
Nada que as pessoas falam é por causa de você. O que os outros falam e fazem é uma projeção de sua própria realidade, de seus sonhos. Quando você estiver imune às opiniões e ações dos outros, você não será vítima de sofrimentos desnecessários.

3. Não Faça Suposições:
Encontre a coragem para fazer perguntas e para expressar o que você verdadeiramente quer. Comunique-se com os outros tão claramente quanto for possível a fim de evitar desentendimentos, tristezas e dramas. Com este único acordo você pode mudar completamente sua vida.

4. Faça Sempre o Seu Melhor:
O seu melhor mudará momento a momento; será diferente quando estiver saudável, assim como quando adoecido. Em qualquer circunstância, simplesmente faça seu melhor, e evitará o auto-julgamento, o auto-abuso e o arrependimento.

1. Be Impeccable with your Word: Speak with integrity. Say only what you mean. Avoid using the Word to speak against yourself or to gossip about others. Use the power of your Word in the direction of truth and love.

2. Don’t Take Anything Personally: Nothing others do is because of you. What others say and do is a projection of their own reality, their own dream. When you are immune to the opinions and actions of others, you won’t be the victim of needless suffering.

3. Don’t Make Assumptions: Find the courage to ask questions and to express what you really want. Communicate with others as clearly as you can to avoid misunderstandings, sadness and drama. With just this one agreement, you can completely transform your life.
4. Always Do Your Best: Your best is going to change from moment to moment; it will be different when you are healthy as opposed to sick. Under any circumstance, simply do your best, and you will avoid self-judgment, self-abuse, and regret.

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Seven Arrows

At birth, each of us is given a particular Beginning Place within these Four Great Directions on the Medicine Wheel. This Starting Place gives us our first way of perceiving things, which will then be our easiest and most natural way throughout our lives. But any person who perceives from only one of these Four Great Directions will remain just a partial man. For example, a man who possesses only the Gift of the North will be wise. But he will be a cold man, a man without feeling. And the man who lives only in the East will have the clear, far sighted vision of the Eagle, but he will never be close to things. This man will feel separated, high above life, and will never understand or believe that he can be touched by anything. A man or woman who perceives only from the West will go over the same thought again and again in their mind, and will always be undecided. And if a person has only the Gift of the South, he will see everything with the eyes of a Mouse. He will be too close to the ground and too near sighted to see anything except whatever is right in front of him, touching his whiskers.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

O Poder do Silêncio

NAGUALISMO

Em várias ocasiões Don Juan tentou, para o meu proveito, dar nome ao seu conhecimento. Ele sentia que o nome mais apropriado era nagualismo, mas que o termo era obscuro demais. Chamá-lo simplesmente “conhecimento” tornava-o vago, e chamá-lo de “bruxaria” seria rebaixá-lo. “A maestria do ‘intento’” era muito abstrata, e “a busca da liberdade total” longa demais e metafórica. Finalmente, por ser incapaz de encontrar um nome mais apropriado, chamou-o “feitiçaria”, embora admitisse não ser realmente adequado.

Através dos anos, deu-me diferentes definições de feitiçaria, mas sempre manteve que as definições mudam à medida que o conhecimento cresce. Perto do final de meu aprendizado, senti que estava em condição de apreciar uma definição mais clara, assim pedi-lhe mais uma vez.

- Do ponto de vista do homem comum – disse Dom Juan – a feitiçaria é bobagem ou um mistério agourento além de seu alcance. Ele está certo, não porque este seja um fato absoluto, mas porque ao homem comum falta energia para lidar com feitiçaria. – Parou por um momento antes de continuar: - Os seres humanos nascem com uma quantidade finita de energia – continuou -, uma energia que é sistematicamente desdobrada, começando no momento do nascimento, de modo que possa ser usada de modo mais vantajoso pela modalidade do tempo.

- O que quer dizer por modalidade do tempo? – perguntei.

- A modalidade do tempo é o feixe preciso de energia sendo percebido. Acredito que a percepção do homem mudou através das eras. O próprio tempo decide o modo; o tempo decide quais feixes precisos de campos de energias, dentre um número incalculável, devem ser usados. E manipular a modalidade do tempo...esses poucos e selecionados campos de energia... toma toda a nossa energia disponível, não nos deixando nada que nos ajude a usar qualquer dos outros campos de energia.

Eu permanecia atento a sua explanação.

Convidou-me com um leve movimento das sobrancelhas a considerar tudo isso.

- Isto é o que quero dizer quando afirmo que o homem comum não tem energia necessária para lidar com feitiçaria. Se usar apenas a energia que tem, não podem perceber os mundos que os feiticeiros percebem. Para fazê-o, os feiticeiros precisam usar um grupo de campos de energia não usado normalmente. Claro que, se o homem comum perceber esses mundos e compreender a percepção dos feiticeiros, deve se utilizar do mesmo grupo que esses usaram. E isto simplesmente não é possível, porque toda sua energia já está desdobrada.

- Fez uma pausa, como se preocupando pelas palavras apropriadas para demonstrar seu ponto de vista. – Pense dessa maneira. Não é que, à medida que o tempo passa, você esteja aprendendo feitiçaria; antes, o que está aprendendo é economizar energia. E essa energia irá capacitá-lo a manipular alguns dos campos de energia que lhe são agora inacessíveis. E isso é feitiçaria: a habilidade de usar campos de energia que não são empregados para perceber o mundo normal que conhecemos. Feitiçaria é um estado de consciência. Feitiçaria é a capacidade de perceber algo que a percepção comum não consegue.

“Tudo o que fiz você passar, cada uma das coisas que lhe mostrei era apenas um instrumento para convencê-lo de que há mais coisas do que olho pode perceber. Não necessitamos de ninguém para nos ensinar feitiçaria, porque de fato não há nada a aprender. O que necessitamos é de um professor para nos convencer de que há poder incalculável ao alcance de nossos dedos. Que paradoxo estranho! Cada guerreiro na trilha do conhecimento pensa, num momento ou noutro, que está aprendendo feitiçaria, mas tudo o que está fazendo é permitir a si mesmo ser convencido do poder oculto em seu ser, e que pode alcançá-lo.

- É isto que está fazendo, Dom Juan, convencendo-me?

- Isso mesmo. Estou tentando convencê-lo de que pode alcançar esse poder. Passei pela mesma coisa. E era tão difícil de ser convencido quanto você.

- Uma vez que o alcançamos, o que fazemos exatamente com ele, Dom Juan?

- Nada. Uma vez que o alcançamos, este irá, por si mesmo, fazer uso dos campos de energia que estão disponíveis para nós, embora inacessíveis. E isto, como eu disse, é feitiçaria. Começamos então a ver, isto é, perceber, algo mais; não como imaginação, mas como real e concreto. E então começamos a conhecer sem a necessidade de usar palavras. E o que cada um de nós faz com esta percepção aumentada, com aquele conhecimento silencioso, depende de nosso temperamento. (...)

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Virtudes da coragem no caminho do guerreiro

Alegria, felicidade, harmonia e paz
residem na sua capacidade de viver corajosamente 
de acordo com sua ideologia.
Estes atributos advém de um sentido de integridade
e respeito para consigo próprio e para com o próximo.

Perdão, compaixão e complascência
são análogos à auto-importância, auto-piedade
e à auto-estima. 
Ser impecável aos seus próprios olhos e andar
no caminho do auto-aperfeiçoamento,
diminui a necessidade de se pedir perdão.

Compaixão verdadeira não é um sentimento,
mas uma ação energica diante do sofrimento alheio.
Observar o sofrimento de outrem, e sentir pena,
é o mesmo que sentir pena de si mesmo,
sem fazer nada para mudar a própria realidade.
Trata-se de uma atitude híbrida e falseada.

No caminho do guerreiro abandona-se a compaixão sem ação,
ou os sentimentos de piedade e complascência.
Vale-se então de um senso de praticidade ativa.
Abandona-se também a culpa pessoal a do próximo.
A sobriedade aparece livre de sentimentalismos 
e age na direção do auto-aperfeiçoamento,
ao invés de um pedido solene e híbrido de perdão.

Chave para a verdade pessoal


viva corajosamente seus sonhos!

seus sonhos são a chave para sua verdade pessoal.

se não sonhar corajosamente, se perderá no pesadelo coletivo.

no pesadelo coletivo perde-se o amor pela vida;

passa-se então a procurar pela morte através de doenças,

ou estando no meio de calamidades.


teu espírito não tolera mentiras!

seus sonhos são suas verdades pessoais.

não viver corajosamente seus sonhos,

faz com seu espírito se desprenda de si mesmo

indo a procura de um novo corpo,

de um novo tempo, um novo espaço e uma nova persona

que abarque com sua verdade.

em espírito e verdade se aproximas do infinito.

viver sua verdade corajosamente é a impecabilidade.

a impecabilidade é o caminho do guerreiro!


satyavan

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Esconderijo Sagrado


tudo o que de Deus descobrir
esconde bem no seio do teu ser
afasta dos teus lábio e do ouvido de outrem
pois quando a alguém O revelar
um Deus só não mais há de haver
a comparação nascerá
e com ela a cobiça e a guerra também
por isso, teu Deus é teu, só teu
não o reveles a mais ninguém
para que possa continuar sendo Ele um só Deus.

*

outro igual a Si mesmo nunca O gerou
mas quanto a ti e a mim, em muitos multiplicou
espalhou-Se em cada um, sem Se repetir
para em silêncio profundo, quando do eu me despir
restar um único Eu, sem mim ou ti!

*

revele o Eterno no teu agir
esconda de teus lábios Seu Nome
pois tal, como O revelou a ti
é um segredo entre tu o Sem Nome;
quando pois ao vento O confessar
encontrará uma barreira para não transpor
esta está no coração de teu irmão
que O ouviu em um outro tom...
guardando o Eterno no local secreto
cessa-se a guerra, a comparação e a miséria

*

não te aprece em iluminar teu irmão
a luz que possui, o possui ele no mesmo quinhão
se o véu que a oculta é mais grosso que o teu
a chuva, o sol, o vento e o tempo
o puirão antes de todo o fim.
que tua luz ilumine a ti mesmo então
se assim proceder de nada terá medo
e até sob tua própria sombra encontrarás sossego.