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segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Yoga Ashram

Bem vindo! Você acaba de entrar em um Yoga Ashram.

Aqui você encontrará espaço para pesquisar a si mesmo, sua relação com a vida, com a natureza e com o cosmos.

Ninguém neste local é especial. Este local, em si, não é especial. Entendemos que "especial' é uma máscara que disfarça a carência e a vaidade.

Tudo o que você precisa para começar suas práticas você já tem: um corpo, uma mente e o chão.

Não há livros sagrados, não há líderes a serem seguidos e você não será pastoreado. Deverá se esforçar para encontrar sua própria consciência, realizar a diferença entre esta e sua mente, e seguir somente a ela.

Caso faça coisas boas e alimente alguma crença virtuosa em específico, não lhe diremos que irá para o céu. Por nenhuma ação equivocada ou crença disfuncional lhe será igualmente apontado o inferno.

Sentirá nascer dentro de si a compaixão, a empatia e o bom senso quanto mais mergulhar no silêncio e na auto observação. Isto não se dará como um dom divino. É sim sua verdadeira natureza aflorando e sua auto ilusão se dissipando.

Quando em seu silêncio receber uma revelação celestial, será pedido que não a escreva, publique ou mesmo a conte para os demais. Destas frações deslumbrantes da percepção do Todo, nascem o sentimento religioso e termina aí o Yoga. Aprenda a se aquietar, baixar a ansiedade em se expressar e simplesmente sinta sua experiência com sua alma. Ao contar aos outros criará a comparação, com ela o sofrimento e com isto dificultará a busca interna de seus companheiros que podem estar tendo experiências diferentes.

Respeite o diferente! Se observar bem, todo o Cosmos é um ode à diversidade, nada se repete.

No yoga ashram, esteja atento para não seduzir aos outros nem se seduzir por ninguém. Desenvolva a equanimidade, isto é, a capacidade de ver a todos da mesma forma, e tratar a todos como gostaria de ser tratado.

Espero que sua passagem por aqui seja rica, que colha os bons frutos de sua essência pura e clara.

Namaskar
um Yoga Acharya quarquer, sem nada de especial

sábado, 18 de julho de 2015

Três Estágios de Expansão da Mente


No texto de hoje, gostaria de refletir sobre três estágios de expansão da mente vivenciados pelos aspirantes espirituais em sua jornada rumo à auto realização.

O primeiro estágio de expansão da mente se refere a um certo êxtase diante da aquisição e reprodução de conhecimento. Aqui, o aspirante espiritual se depara com uma vasta quantidade de informações que apontam para a Meta Suprema. Ele ou ela sente uma forte necessidade de ler livros, participar de seminários e palestras, assistir documentários, fazer pesquisas sobre assuntos que discorram sobre as capacidades inerentes à mente. Se encanta o aspirante espiritual em saber que pode atingir estados muito superiores ao que se encontra no momento presente e, ao sentar em uma roda de amigos, deleita-se em citar as informações adquiridas, argumentar, parafrasear autores renomados. Sente a profunda necessidade de que os demais saibam "das coisas" e que saiam da ignorância. Este estágio é marcado pela “crença” a respeito de algo maior.

Há, no entanto, um momento em que percebe que toda a informação que adquiriu é, por si só, híbrida; não é capaz de o fazer avançar ou expandir de fato suas capacidades mentais. Acredita que pode avançar, mas se dá conta que desconhece os “meios” para o fazer. Percebe que acreditar e citar textos e autores é insuficiente para se auto realizar. Necessita descobrir as técnicas e os métodos que levaram tantos seres à auto realização. Dá-se, então, início ao caminho da disciplina, da técnica e do método – o caminho do Yoga.


Ao ser iniciado nas disciplinas yóguicas, o aspirante espiritual se vê diante de uma nova aventura, cheia de desafios, entre eles o de pôr em suspensão todas as suas crenças e conhecimentos adquiridos, atendo-se somente à auto-observação. Deve evitar a qualquer custo a tentação de formar ideias novas sobre si mesmo, sobre os outros, sobre o mundo – não lhe é mais permitido “crer”, somente observar, sentir, presenciar. Nota que necessita do conselho de yogues mais experientes para discernir de forma crítica sobre a legitimidade de seu avanço em contraste com a tendência inerente à auto ilusão, mecanismo clássico do funcionamento da mente humana. Não raro, encontrar-se-á em profunda solitude, comungando consigo mesmo e com a Consciência Suprema. Mesmo na companhia de outros se sentirá só, desejará estar só, e compreenderá que a profundidade e a velocidade de seu avanço dependem de seu recolhimento solitário e dedicação à autodisciplina. Nota que é a “sinceridade” de sua prática que lhe provê o magnetismo necessário para atrair os recursos para cada próxima etapa de seu progresso.

Este estágio pode durar algumas vidas, e culmina no auto aperfeiçoamento do Ser. Através da autodisciplina, o aspirante espiritual conquista a Natureza, os cinco elementos que compõe seu corpo e a matéria, os sentidos e converte sua mente da condição de traiçoeira para sua maior aliada, aniquilando sua força de auto boicote. Pela observação e experiência direta, compreende o funcionamento das Leis que regem a Vida e a Ordem Cósmica.

Como resultado de seu sincero esforço, aprende a receber instruções diretas da Mente Cósmica, a Entidade Suprema. É neste estado que se inicia a jornada Tântrica. O aspirante espiritual realiza agora que as disciplinas pessoais, por mais imprescindíveis que sejam, são também limitadas; que os métodos e técnicas são como roupas apertadas. Seu único Yoga se tornou o Bhakti, a Devoção e a Entrega completa ao Ser Supremo. Vence suas limitações auto impostas, e flui agora em um fluxo contínuo de Bem-Aventurança. Sua motivação maior se torna o serviço para o bem-estar de toda a criação. Seus olhos são livres de qualquer dualidade ou discriminação, em tudo o que pousam reconhecem o Uno Indivisível, seu Amante Supremo – O ama em tudo e em todos, deseja somente Lhe dar prazer. Tal é o terceiro estágio de expansão da mente de um aspirante espiritual. Este se encontra livre de todas as crenças e disciplinas. As utiliza somente para dar exemplos aos jovens aspirantes e os inspirar a desenvolver a prática sincera. Está apto a retornar para Casa, fundir-se com a Fonte, com o Uno Indivisível, todavia, por compaixão posterga sua liberação final. Deseja ardentemente que a todos os seres sejam garantidas a possibilidade e os recursos necessários para que transcendam as aflições advindas do nascimento, envelhecimento, da doença, da morte e do renascimento.

O Tantra é certamente o caminho de todos os Budas, o caminho sem caminho. Há somente o caminhante e a Consciência Suprema, e ambos unificados em Um só Ser. Este estado de auto realização é o direito de nascimento de todos os seres, o desiderato único de toda a criação. Todas as pessoas inteligentes se lembram disto a todo o tempo e aceleram o passo rumo à auto realização do Ser. Como ensina meu Amante Supremo, a vida humana é muito curta, portanto, aproveite cada oportunidade possível para desenvolver-se através de disciplinas e práticas espirituais.

BABA NAM KEVALAM – TUDO É O SER SUPREMO

Profundo Namaskar
Satyavan Rogério


Dedicado aos pés de lótus de meu Amado Anandamurti, para o bem de todos. 

domingo, 26 de fevereiro de 2012

MEIO-BANHO (Vyapaka Shaoca)

“Mantenha seu corpo limpo e bem-cuidado como um templo”.
Shrii Shrii Anandamurti

Foi explicado anteriormente (Ponto 1: Uso de Água) que todas as ações produzem calor e que isto, indiretamente, afeta a mente. Assim, antes das atividades que requerem concentração ou tranquilidade – como meditar, comer, dormir etc. –, é aconselhável resfriar o corpo com um meio-banho. Esse método consiste em resfriar as partes do corpo com vasos estreitos, como as mãos e os pés, para que o sangue refrescado se espalhe rapidamente por todo o corpo.

O meio-banho é feito da seguinte forma: 
  • molha-se a região do órgão sexual, do umbigo para baixo;
  • molham-se as pernas, do joelho para baixo, e os braços, do cotovelo para baixo;
  • enche-se a boca com água, e joga-se, com a mão, água nos olhos abertos, por pelo menos 12 vezes, cuspindo a água em seguida;
  • faz-se a limpeza nasal da seguinte forma: enche-se uma mão (ou as duas) com água, encostando-a abaixo do nariz, com a cabeça abaixada. Depois, levanta-se a cabeça, deixando a água escorrer suavemente pelas narinas, até que ela saia pela boca. (Atenção: deve-se evitar assoar o nariz em seguida, pois a água pode se espalhar na região do ouvido, causando desconforto. 
  • Os novos praticantes podem usar pouca água, até se acostumar); coloca-se o dedo médio da mão direita no fundo garganta, para expelir o muco acumulado (é recomendável lavar as mãos antes);
  • molha-se atrás das orelhas e do pescoço e, por fim, a face.

Tudo isso é para ser feito com água fria. Os habitantes de regiões muito frias podem usar água morna, mas nunca com temperatura superior à do corpo. 

Depois que essa prática se torna habitual, ela não leva mais do que 2 ou 3 minutos.

A água espargida nos olhos é bastante saudável, pois ela evita alguns problemas de vista causados pelo calor, como a catarata. 

Essa prática também baixa a tensão ocular e alivia as dores de cabeça.

A limpeza do duto nasal e da garganta é outra recomendação excelente. 

Limpa várias partículas de pó acumuladas nos pêlos e nos dutos nasais no decorrer do dia. Quando são removidos a sujeira e o muco nasal, melhora-se o olfato e a respiração e são prevenidos, até certo ponto, os resfriados e as inflamações de garganta.

As partes do corpo localizadas por detrás da orelha e do pescoço acumulam muito calor. Por isso, quando molhamos essas áreas, sentimos uma sensação refrescante.

Os benefícios da água espargida nos olhos foram confirmados em pesquisas médicas. Descobriu-se que os mergulhadores profissionais, por permanecem muito tempo debaixo d’água, têm taxa metabólica baixa. Os médicos comprovaram em pacientes cardíacos esse fenômeno, que foi denominado “reflexo do mergulho”. Eles notaram que, quando eles ficavam com o rosto submerso em água fria, seus batimentos cardíacos caíam bastante. Após o meio-banho, esse efeito também ocorre, ou seja, o metabolismo cai, e, com isso, o organismo fica em estado apropriado para a meditação.

Assim, devido aos seus efeitos bastante benéficos, o meio-banho deve ser feito antes da meditação, das refeições (para acalmar o corpo e ajudar na digestão), das ásanas e de dormir. Porém, se após a meditação, a pessoa tiver que comer, fazer ásanas ou dormir, não será necessário outro meio-banho. Mas, pelo menos antes de comer, deve-se lavar as mãos e, se possível, os pés, pois neles há mais de 70 mil terminações nervosas. O meio-banho é também benéfico para as atividades que exigem concentração, como assistir a uma aula, ler um livro, ou qualquer outra atividade psíquica ou psicoespiritual. Se fizermos meio-banho e meditarmos um pouco antes de dormir, teremos sono tranqüilo.

Uma última orientação sobre o meio-banho: é importante secar bem a região púbica e os pés, especialmente os dedos, pois essas áreas ficam normalmente cobertas e acumulam calor e umidade. Nos pés, às vezes, se desenvolvem fungos. Para evitar a irritação da pele e a proliferação de fungos, pode-se usar o óleo de coco ou outro similar.

Shrii Shrii Anandamurti

A Importância da Linfa

Os gânglios linfáticos proveem a matéria prima – linfa – para as fábricas – as glândulas – e as linfas excedentes vão para o cérebro e nutrem as células nervosas no crânio. Quando a linfa entra em contato com uma glândula ativa, hormônios são criados.

Se alimentos picantes e estáticos, ou excesso de proteína animal for ingerido por homens, a quantidade de linfa diminuirá e a conversão de linfa em sêmen aumentará. Isto levará ao atraso intelectual. Pode ser observado que pessoas que ingerem muita proteína animal tendem a produzir muitos filhos.

Os homens deveriam ter controle apropriado sobre a conversão de linfa em sêmen. Isto é parte de Brahmacarya Sádhaná [meditação na Entidade Suprema]. Os homens devem ter controle apropriado sobre seus corpos. Seres humanos deveriam ser sutis na alimentação, mente e intelecto.

Apesar de os carnívoros serem mais astutos e espertos que os [granívoros], eles são geralmente menos intelectuais. Será muito difícil para um tigre, um gato ou um cão fazer prática espiritual. Um macaco ou uma vaca pode fazer tais práticas, pois eles obtêm muita clorofila de gramas, capins e outros vegetais verdes. Animais granívoros produzem mais linfa que os carnívoros, e é por isso que seus cérebros são mais desenvolvidos.

A linfa é necessária para a produção de leite. A maior parte das mulheres pode se mover com agilidade até terem seus bebês, mas depois de terem dado a luz, elas geralmente não se movem tão rapidamente.

Vegetarianos produzem mais linfas porque obtêm mais clorofila de folhas verdes e por isso seus cérebros são mais desenvolvidos do que os não-vegetarianos. Aqueles que consomem proteína animal [negligenciando vegetais verdes] sofrem de falta de linfa, pois a proteína animal possui muito pouca clorofila.

Linfa é produzida a partir da proteína animal também, mas dado o fato de a proteína animal produzir muito calor no corpo humano, a linfa é rapidamente convertida em sêmen.

Qual é a matéria inicial para a fabricação de linfa? Linfa é produzida a partir da energia e vitalidade adquiridas dos diferentes cinco elementos do universo, como a água, o ar e a luz. Esta é a matéria prima. O material final é Shukra [que possui 3 fases: linfa, espermatozoide e fluído seminal]. Esta é a matéria mais desenvolvida – o creme dos cremes! A clorofila acelera a produção de linfas, mas não age como a matéria prima.

Em certas pessoas, a maior parte da linfa é desperdiçada, e é por isso que elas são deficientes intelectualmente. Mas para os aspirantes espirituais, uma vez que a maior parte de sua linfa permanece no corpo, eles não deverão sofrer nenhuma deficiência intelectual. Esta é a razão pela qual o nível intelectual dos aspirantes espirituais é maior do que o das pessoas comuns.

Agentes catalíticos positivos ou negativos tem um efeito importante sobre a produção da linfa. Ambientes psíquicos e físicos positivos são agentes catalíticos positivos, e ambientes negativos estas esferas surtem efeito catalítico negativo. Mesmo que a comida ingerida seja sutil, se o ambiente for negativo haverá detrimento no progresso mental. Salas de cinema, prostíbulos e centros comerciais agitados são ambientes negativos. Más discussões, livros ruins, maus pensamentos predominantes na população são ambientes psíquicos negativos – catalíticos negativos. Se o ambiente for bom, como um local de práticas espirituais, o efeito catalítico será positivo. Se houverem muitos aspirantes espirituais e discussões elevadas, um ambiente psíquico positivo será criado e isto ajudará a fabricar linfa.

A linfa em si é um hormônio, e é convertida em outros hormônios pelas diferentes glândulas. Linfa é o hormônio inicial. A criação de hormônios nas outras glândulas depende de agentes catalíticos positivos ou negativos. É por esta razão que nos tempos antigos, Shiva enfatizou a importância da Satsaunga [associação com boas pessoas]. A Satsaunga provê um ambiente psíquico positivo. Boa companhia leva à liberação, enquanto má companhia leva a limitação, ao aprisionamento pelas amarras.

Shrii Shrii Anandamurti, Psicologia do Yoga (Yoga Psychology) 

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Os Estados de Êxtase e a Origem da Meditação

 Diferente do estudo arqueológico sobre os restos ósseos humanos mais remotos, passíveis de datação, os estados mentais dos nossos ancestrais pré-históricos perderam-se com eles pelos meandros do tempo. A evolução nos mostra que o desenvolvimento do cérebro se deu a partir de um acumulo de funções cada vez mais complexas sobre a estrutura cerebral de nossos antepassados pré-hominídeos, ou seja, sobre o complexo reptiliano, também chamado de cérebro límbico.

Em algum momento, experiências de êxtase foram vividas, deixando nessa estrutura cerebral ancestral impressões que, no tardar de nossa evolução alavancaram a sistematização de técnicas e métodos a partir dos quais tais estados pudessem ser revividos. Um dos mais sofisticados destes métodos conhecido hoje é a meditação.

Através da observação de povos que ainda nos dias de hoje vivem como na Idade da Pedra, como por exemplo, os habitantes do deserto de Kalahari ou os montanheses da Nova Guiné, povos caçadores e coletores cuja cultura permanece xamanística, extraímos pistas do nosso passado oculto e misterioso.

“É provável que muitas oportunidades ou situações tenham levado nossos ancestrais a descobrir que ao se fazer certas coisas, culminava-se em estados alterados de consciência, levando ao êxtase, por exemplo!”

“Os arqueólogos afirmam que somente a cerca de cinqüenta mil anos atrás a evolução humana atingiu a capacidade cerebral que persiste até hoje, todavia, a experiência extática possivelmente remonta a muito mais tempo do que isso.”

“Um evento datável dessa pré-história há de ter sido a domesticação do fogo, que se supõe haja ocorrido por volta de oitocentos mil anos atrás. Em suas cavernas os grupos proto-humanos tiveram fogueiras em torno das quais se aconchegavam durante as noites frias e amedrontadoras. Nessas ocasiões eles podem ter experimentado os primeiros êxtases. Os efeitos psicológicos do fato de ficarem sentados longas horas diante das fogueiras devem ter sido pronunciados. O fogo poderia tornar-se uma presença misteriosa, como provedor de conforto e proteção, até mesmo um ser ‘divino’. A focalização das labaredas bailarinas por longas horas, acrescida da suspensão de outros estímulos sensoriais, bem poderia ter produzido estados estáticos, cabendo às chamas afastar a consciência do seu padrão de luta-fuga, para um estado alterado, mais calmo, de repouso em vez de ansiedade.”

“Os estados meditativos exibem exatamente essa calma e podem ser produzidos por uma longa concentração num único objeto de atenção, o ‘objeto de meditação’.”

“O fato de tantas religiões primitivas terem usado o fogo no ritual e no simbolismo confirma o poderoso domínio que esse elemento exerce sobre a consciência humana, remanescentes das primeiras confrontações com essa ‘substância’ reveladora de mistério. Com efeito, o filósofo fenomenologista francês Gastón Bachelard dedicou um livro inteiro à análise do impacto psicológico do fogo (The Psychoanalysis of Fire, Boston, Beacon Press, 1964), onde concluiu:

“Estamos quase certos de que o fogo é precisamente o primeiro objeto, o primeiro fenômeno, sobre o qual a mente humana refletiu; entre todos os fenômenos, apenas o fogo é suficientemente prezado pelo homem pré-histórico para despertar nele o desejo do conhecimento, sobretudo porque acompanha nele o desejo do amor. Não há dúvida de que se tem proclamado amiúde que a conquista do fogo separou de uma vez por todas o homem do animal, mas talvez não se tenha notado que a mente em seu estado primitivo, a par da sua poesia e do seu conhecimento, desenvolveu-se na meditação diante de uma fogueira”. (Bachelard, pág. 55)

Além do êxtase gerado pela observação do fogo, podemos nos remeter ao silenciamento dos sentidos - e até mesmo dos pensamentos - de um caçador ante a um animal selvagem, imóvel, extático, alerta e, no entanto, pronto para agir. O próprio ato de fazer amor, que leva o ser humano ao abandono extático pós-orgasmo, que o deixa fora de si diante da consumação sexual. A própria resposta às doenças e aos estados traumáticos onde uma dor insuportável acomete um indivíduo, levando-o a rota de fuga do êxtase ou até para uma experiência fora do corpo.

O que desde a antiguidade se percebe, é que as pessoas que experimentavam tais projeções da consciência no êxtase se tornavam diferentes, com sua psique e seus poderes pessoais transformados, adotando, não raro, o papel de líderes e curadores de seus grupos, o xamã

“As culturas xamanísticas dão o mais alto valor a essas experiências de autotransformação extática. Ainda que possam ocorrer em anos muito tenros, proporcionam ao indivíduo um contato inesquecível com o ‘divino’ e com seu ‘poder’, iniciando-o assim na idade adulta. Sem esse contato a pessoa é considerada incompleta, incapaz de aproveitar as principais fontes do poder para o bem estar.”

“Por infelicidade não levamos as pessoas a essas experiências nem por meio da forma coerciva e inescapável de iniciação, como a que se praticava no templo grego de Elêusis – aonde os peregrinos iam uma vez na vida para que seus olhos se abrissem para a realidade extática dos mistérios da vida e da morte – nem por meio daquela que se exigia de todos os jovens, como na busca da visão xamânica, onde não alcançar o êxtase significava o ridículo social. Em conseqüência disso nossa psique permanece desequilibrada, capaz de ter experiências apenas de natureza estética e religiosa racional, ou pseudo racional.

Os povos arcaicos consideravam incompletos tais indivíduos, sem força, por carecerem da participação extática nas fontes fundamentais da vida, que eles chamavam ‘divino’ ou ‘reino do poder do espírito’. Enquanto a sua sensitividade permanecia fluída, eles levavam jovens a tentar as iniciações porque estes ainda não haviam desenvolvido a rígida organização psicológica imposta aos adultos mais moços, que tinham que se adaptar cada vez mais ao que Freud denominou o ‘princípio da realidade’.

Os povos arcaicos possuíam também um conhecimento incrivelmente sofisticado da flora e da fauna do seu meio ambiente, tendo descoberto plantas comestíveis, medicinais e psicoativas, que tinham funções específicas para a sua sobrevivência. O interessante é que ao descobrirem as plantas psicoativas, eles não as jogaram fora como inutilidade, mas colheram-nas com todo o cuidado, tratando-as como se fossem poderes sagrados que possibilitavam o acesso aos reinos estáticos do espírito e da força, usando-as como sacramentos rituais conducentes ao bem-estar. Além disso, as provas extraídas dos primeiros registros históricos (védicos, taoistas e de outras tradições locais) mostram que o uso dessas plantas foi tomado de empréstimo às culturas xamanísticas anteriores, por civilizações que se desenvolveram precocemente, como indica o complexo uso do 'soma/haoma' entre os povos indo-arianos (védicos) e indo-irânicos, e o grande interesse que os primeiros taoístas da China demonstravam por plantas que se supunha tivessem propriedades psicoativas, sem falar nas misteriosas poções ingeridas nos rituais iniciáticos de Elêusis, nos tempos gregos.


Os xamãs são os antepassados imediatos dos professores de meditação e dos mestres espirituais de que ouvimos falar na literatura primitiva.
(há ser continuado... O fim dos tempos védicos e a aurora dos yogues, que já não se valiam mais das plantas de poder para alcançar o êxtase meditativo.)

Texto organizado por Rogério Meggiolaro, Baseado na obra: "Do Xamanismo à Ciência" - Williard Johnson, Ed. Cultrix.