As pessoas se aproximam do Sada Shiva interessadas em praticar yoga. Uma pergunta comum é sobre o estilo ou modalidade de yoga que aqui é transmitida. A explicação frequentemente levanta mais questões do que as elucida... Por quê? Por que é assim que se pratica yoga, deixando que um questionamento puxe outro, instigando um espírito sempre jovial e curioso pela busca do conhecimento que nunca se fecha e sempre se abre. Yoga se trata de achar uma posição confortável dentro do desconforto diante o desconhecido; receptivo, aberto, pronto, desperto, desapegado, presente e imensamente apaixonado pelo mistério é o espírito de um praticante de yoga, a ele ou ela pouco interessam as respostas prontas, fáceis e definitivas – é o sondar o Grande Mistério que os interessa.
Ao dizer que praticamos Tantra Yoga, vejo na mente dos novos praticantes balõezinhos, como aqueles das histórias em quadrinhos, cheios de imagens que tentam adequar a breve introdução da proposta das aulas, às diversas técnicas corporais do yoga com as quais já se depararam em algum site na internet, programa de televisão ou alguma revista ou livro que já tenha foleado. Não, não, não – como diria o Mestre Tântrico Anandamurti – Yoga não se trata de algum tipo de exercício, Yoga é a prática da Unificação; a fusão do pequeno sentimento de “eu individual” no grande “EU Cósmico”. Para instigar este espírito de criança curiosa, lançarei alguns pensamentos sobre o Tantra assim como fui instigado a percebê-lo.
O Tantra é uma prática destinada a despertar tigres e leoas. Não há rebanho a ser conduzido e nem protegido, não há verdades prontas, nem dogmas, crenças ou superstições baseados no medo de qualquer natureza. Os praticantes de Tantra, chamados “tântrikas”, empreendem uma luta sem tréguas para despedaçar a raiz de todo e qualquer medo, bloqueio ou temor dentro de si. É o caminho do empoderamento e da emancipação. O temor à Consciência Suprema é abandonado e o praticante abre seu corpo e sua mente para permitir que Sua Força flua através de si, como uma fonte infinita de benevolência.
Aqueles que conseguem despertar dentro de si mesmos esta Força – e todos que desejam sinceramente conseguem, pois ela é a Força a que chamamos de Vida – são tomados por profunda compaixão, que é caracterizada por um vigor corajoso de acelerar o processo de lapidar e transformar a si e também o mundo ao redor. A Energia Divina despertada e fluindo pela coluna vertebral – chamada Kulakundalini – arrebata toda a timidez e temores diante das carrancas do mau, da violência, da exploração sobre qualquer ser, pois o yogue realiza a percepção de que a Vida de qualquer ser é também a sua própria Vida, e é sagrada, e deve ser protegida, empoderada e emancipada a seu próprio tempo. O Tantra é o caminho dos guerreiros da compaixão!
Um tântrika não tem chefes, líderes ou senhores e não se afina com nenhuma hierarquia vertical. Confia sim em sua capacidade de sentir e afirmar “eu e meu Pai/Mãe somos Um”, e assim pensar e agir em consonância com esta perspectiva.
Este clã de tigres e leoas se aninha horizontalmente em um círculo, uma mandala de respeito e cooperação mútuo. Um aprende a honrar e dar suporte ao outro. Crescem juntos, pois sua inspiração vem de uma Fonte em comum, a Consciência Suprema.
Os tântrikas renunciaram a todo e qualquer sentimento de classe, casta, grupo ou “-ismos”. A Consciência que os empodera é a clara luz da compaixão e os habilita a enxergar tudo como múltiplas formas do UM.
Céu ou inferno são, para tais guerreiros, estados mentais advindos como consequência de suas ações certeiras, benevolentes e precisas ou equivocadas e egoístas. Sabem, todavia, que a Consciência Suprema é a realidade última, desprovida de qualquer dualidade e por isso não desenvolvem o anseio ou apego pela salvação e nem mesmo o medo da condenação. Tornam-se corajosos e responsáveis por seus erros e acertos, por seus pensamentos, sentimentos, palavras e ações e se esforçam para sintonizar suas frequências pessoais acima dos instintos básicos da sobrevivência animal – comer, dormir, reproduzir, temer e buscar abrigo seguro. Abrem-se para o Bhágavata Dharma, e o sentido da vida se torna “a autorrealização e o serviço à humanidade e a todos os seres”.
Os átomos, os planetas, o sol, as estrelas, as galáxias, assim como toda a massa negra que sustenta o Cosmos são sentidos pelos yogues como seu corpo maior, o corpo da Consciência Suprema e, as mais diversas esferas espirituais são ações desta amorosa Mente Cósmica Transcendental. Tudo é a morada do Pai/Mãe Supremo e por isso todos os sentimentos relacionados à nacionalidade, localidade, etnia ou grupo se dissolvem. Estando rodeado por perfumadas e macias pétalas, ou por espinhos cortantes, num ambiente conhecido e acolhedor ou como estrangeiros, os tântrikas relembram suas mentes a todo instante de que não há nada a temer na morada do Supremo, avançam corajosamente, e em sua marcha infinita encontram o paraíso onde quer que estejam. Carregam em suas mãos as tochas flamejantes da “compaixão destemida” e oferecem o calor deste fogo sagrado a toda e qualquer criatura que necessite de abrigo e deseje acender-se nesta chama.
Os tântrikas, por fim, reconhecem seus corpos físicos e mentais como instrumentos preciosíssimos – mesmo que temporários – e cuidam deles com total apreço através das mais diversas técnicas, sejam elas asanas, pranayamas, meditação, danças, artes marciais, alimentação adequada, relaxamento, etc... Cada yogue descobre a cada momento “presente-perfeito” qual o recurso e técnica mais apropriado para manter seu vaso de ouro em puro lustro sabendo que deve utilizá-lo ao máximo para seu próprio desenvolvimento e para o serviço a todos os seres e, por fim, quando este vestuário não mais lhe serve, dele despe-se desapegadamente e segue para sua próxima aventura em qualquer forma que couber à criadora e criativa Consciência Suprema lhe conceder.
Nas palavras de Anandamurti, sigam em frente tirando dos seus pés todos os obstáculos rumo à Realização Suprema. Vocês são filhos e filhas da Entidade mais poderosa de todo o universo. Vitória para todos vocês... Jay!
Por Rogério Satyavan
8 de Março de 2014, Caraguatatuba, SP