domingo, 22 de novembro de 2015

Amor - Verdade - Impermanência : Prema - Satya - Maya

Muito se fala sobre a supremacia do Amor (Prema, em Sânscrito) como a mais alta virtude humana. Dentro da cultura yóguica, todavia, há ainda uma virtude que se sobrepõe e alicerça o Amor, Satya.

Satya, comumente traduzido como Verdade, é a matéria prima do cosmos e da vida. É de Satya que tudo se origina. A raiz desta palavra é Sat, o princípio original da integridade e da unidade universal, o Absoluto. Seu antônio é Maya, Ilusão, que também pode ser compreendido como o princípio da Impermanência que subjuga todos os fenômenos à mutabilidade. Satya, a Verdade, permanece a mesma, imutável, testemunhando com absoluta benevolência o eterno processo de mutação do Universo.

Os yogues buscam se estabelecer em Satya, a Verdade Benevolente. Satya confere brilho e clareza ao Amor, Prema. Sem esta característica translúcida de Satya, o Amor é experienciado como um mero sentimento ou emoção e, mesmo que intenso, não tem consistência em si. O Amor com Satya opera como uma força benevolente e clara, desiludida, sem máscaras. 

Total imersão em Satya ou Sat, a Verdade ou o Absoluto, implica na dissolução do eu individual, o ego, no Oceano Infinito da Consciência Suprema, Brahma - estado conhecido como Samadhi ou Nirvana. No entanto, experiência cotidiana de Prema, o Amor, fluindo pelas correntes da Verdade, Satya, é dotada de transparência e clareza.

A Dança de Maya, a Impermanência
Estando nós imersos em Maya, a Impermanência, sofremos constantes modificações no âmbito do corpo, da mente e das emoções. Com isto, nossas necessidades e capacidades também mudam no decorrer do tempo, do lugar onde nos encontramos, da pessoa em quem nos tornamos e com as outras com quem compartilhamos a vida.

O exercício da auto-observação, da meditação e da introversão da mente confere ao aspirante a capacidade de lançar luz e clareza sobre esta realidade sempre cambiante, Estas mudanças podem gerar instabilidade momentânea, mas a familiaridade com Satya, a Verdade Permanente em si, o tranquiliza e propicia uma rápida adaptabilidade às nuances da vida: sabe que sua verdadeira identidade permanece intacta em Satya. 

Fique Tranquilo e Eu Sou Satya
Tendo atingido no seu desenvolvimento pessoal certa maturidade, consegue tanto aceitar a mudança como livrar-se dos medos, inseguranças e apegos, as raízes fundamentais do sofrimento da alma e liberta-se para viver a experiência de Satya Prema, o Amor Verdadeiro. 

A princípio, sente lampejos desta oitava maior do Amor, intercalados com seus sentimentos e emoções menores. Deixa tudo ser, permite tudo passar, aprende pacientemente a descansar mais e mais em Satya enquanto assisti o espetáculo incansável da dança da Impermanência, Maya, diante de si. 




BABA NAM KEVALAM - Satya é tudo o que há!

Namaskar
Satyavan

Caraguatatuba, 22/11/2015

sábado, 18 de julho de 2015

Três Estágios de Expansão da Mente


No texto de hoje, gostaria de refletir sobre três estágios de expansão da mente vivenciados pelos aspirantes espirituais em sua jornada rumo à auto realização.

O primeiro estágio de expansão da mente se refere a um certo êxtase diante da aquisição e reprodução de conhecimento. Aqui, o aspirante espiritual se depara com uma vasta quantidade de informações que apontam para a Meta Suprema. Ele ou ela sente uma forte necessidade de ler livros, participar de seminários e palestras, assistir documentários, fazer pesquisas sobre assuntos que discorram sobre as capacidades inerentes à mente. Se encanta o aspirante espiritual em saber que pode atingir estados muito superiores ao que se encontra no momento presente e, ao sentar em uma roda de amigos, deleita-se em citar as informações adquiridas, argumentar, parafrasear autores renomados. Sente a profunda necessidade de que os demais saibam "das coisas" e que saiam da ignorância. Este estágio é marcado pela “crença” a respeito de algo maior.

Há, no entanto, um momento em que percebe que toda a informação que adquiriu é, por si só, híbrida; não é capaz de o fazer avançar ou expandir de fato suas capacidades mentais. Acredita que pode avançar, mas se dá conta que desconhece os “meios” para o fazer. Percebe que acreditar e citar textos e autores é insuficiente para se auto realizar. Necessita descobrir as técnicas e os métodos que levaram tantos seres à auto realização. Dá-se, então, início ao caminho da disciplina, da técnica e do método – o caminho do Yoga.


Ao ser iniciado nas disciplinas yóguicas, o aspirante espiritual se vê diante de uma nova aventura, cheia de desafios, entre eles o de pôr em suspensão todas as suas crenças e conhecimentos adquiridos, atendo-se somente à auto-observação. Deve evitar a qualquer custo a tentação de formar ideias novas sobre si mesmo, sobre os outros, sobre o mundo – não lhe é mais permitido “crer”, somente observar, sentir, presenciar. Nota que necessita do conselho de yogues mais experientes para discernir de forma crítica sobre a legitimidade de seu avanço em contraste com a tendência inerente à auto ilusão, mecanismo clássico do funcionamento da mente humana. Não raro, encontrar-se-á em profunda solitude, comungando consigo mesmo e com a Consciência Suprema. Mesmo na companhia de outros se sentirá só, desejará estar só, e compreenderá que a profundidade e a velocidade de seu avanço dependem de seu recolhimento solitário e dedicação à autodisciplina. Nota que é a “sinceridade” de sua prática que lhe provê o magnetismo necessário para atrair os recursos para cada próxima etapa de seu progresso.

Este estágio pode durar algumas vidas, e culmina no auto aperfeiçoamento do Ser. Através da autodisciplina, o aspirante espiritual conquista a Natureza, os cinco elementos que compõe seu corpo e a matéria, os sentidos e converte sua mente da condição de traiçoeira para sua maior aliada, aniquilando sua força de auto boicote. Pela observação e experiência direta, compreende o funcionamento das Leis que regem a Vida e a Ordem Cósmica.

Como resultado de seu sincero esforço, aprende a receber instruções diretas da Mente Cósmica, a Entidade Suprema. É neste estado que se inicia a jornada Tântrica. O aspirante espiritual realiza agora que as disciplinas pessoais, por mais imprescindíveis que sejam, são também limitadas; que os métodos e técnicas são como roupas apertadas. Seu único Yoga se tornou o Bhakti, a Devoção e a Entrega completa ao Ser Supremo. Vence suas limitações auto impostas, e flui agora em um fluxo contínuo de Bem-Aventurança. Sua motivação maior se torna o serviço para o bem-estar de toda a criação. Seus olhos são livres de qualquer dualidade ou discriminação, em tudo o que pousam reconhecem o Uno Indivisível, seu Amante Supremo – O ama em tudo e em todos, deseja somente Lhe dar prazer. Tal é o terceiro estágio de expansão da mente de um aspirante espiritual. Este se encontra livre de todas as crenças e disciplinas. As utiliza somente para dar exemplos aos jovens aspirantes e os inspirar a desenvolver a prática sincera. Está apto a retornar para Casa, fundir-se com a Fonte, com o Uno Indivisível, todavia, por compaixão posterga sua liberação final. Deseja ardentemente que a todos os seres sejam garantidas a possibilidade e os recursos necessários para que transcendam as aflições advindas do nascimento, envelhecimento, da doença, da morte e do renascimento.

O Tantra é certamente o caminho de todos os Budas, o caminho sem caminho. Há somente o caminhante e a Consciência Suprema, e ambos unificados em Um só Ser. Este estado de auto realização é o direito de nascimento de todos os seres, o desiderato único de toda a criação. Todas as pessoas inteligentes se lembram disto a todo o tempo e aceleram o passo rumo à auto realização do Ser. Como ensina meu Amante Supremo, a vida humana é muito curta, portanto, aproveite cada oportunidade possível para desenvolver-se através de disciplinas e práticas espirituais.

BABA NAM KEVALAM – TUDO É O SER SUPREMO

Profundo Namaskar
Satyavan Rogério


Dedicado aos pés de lótus de meu Amado Anandamurti, para o bem de todos. 

sábado, 8 de março de 2014

O Tantra de Anandamurti (como o compreendi)


As pessoas se aproximam do Sada Shiva interessadas em praticar yoga. Uma pergunta comum é sobre o estilo ou modalidade de yoga que aqui é transmitida. A explicação frequentemente levanta mais questões do que as elucida... Por quê? Por que é assim que se pratica yoga, deixando que um questionamento puxe outro, instigando um espírito sempre jovial e curioso pela busca do conhecimento que nunca se fecha e sempre se abre. Yoga se trata de achar uma posição confortável dentro do desconforto diante o desconhecido; receptivo, aberto, pronto, desperto, desapegado, presente e imensamente apaixonado pelo mistério é o espírito de um praticante de yoga, a ele ou ela pouco interessam as respostas prontas, fáceis e definitivas – é o sondar o Grande Mistério que os interessa.

Ao dizer que praticamos Tantra Yoga, vejo na mente dos novos praticantes balõezinhos, como aqueles das histórias em quadrinhos, cheios de imagens que tentam adequar a breve introdução da proposta das aulas, às diversas técnicas corporais do yoga com as quais já se depararam em algum site na internet, programa de televisão ou alguma revista ou livro que já tenha foleado. Não, não, não – como diria o Mestre Tântrico Anandamurti – Yoga não se trata de algum tipo de exercício, Yoga é a prática da Unificação; a fusão do pequeno sentimento de “eu individual” no grande “EU Cósmico”. Para instigar este espírito de criança curiosa, lançarei alguns pensamentos sobre o Tantra assim como fui instigado a percebê-lo.

O Tantra é uma prática destinada a despertar tigres e leoas. Não há rebanho a ser conduzido e nem protegido, não há verdades prontas, nem dogmas, crenças ou superstições baseados no medo de qualquer natureza. Os praticantes de Tantra, chamados “tântrikas”, empreendem uma luta sem tréguas para despedaçar a raiz de todo e qualquer medo, bloqueio ou temor dentro de si. É o caminho do empoderamento e da emancipação. O temor à Consciência Suprema é abandonado e o praticante abre seu corpo e sua mente para permitir que Sua Força flua através de si, como uma fonte infinita de benevolência. 

Aqueles que conseguem despertar dentro de si mesmos esta Força – e todos que desejam sinceramente conseguem, pois ela é a Força a que chamamos de Vida – são tomados por profunda compaixão, que é caracterizada por um vigor corajoso de acelerar o processo de lapidar e transformar a si e também o mundo ao redor. A Energia Divina despertada e fluindo pela coluna vertebral – chamada Kulakundalini – arrebata toda a timidez e temores diante das carrancas do mau, da violência, da exploração sobre qualquer ser, pois o yogue realiza a percepção de que a Vida de qualquer ser é também a sua própria Vida, e é sagrada, e deve ser protegida, empoderada e emancipada a seu próprio tempo. O Tantra é o caminho dos guerreiros da compaixão!

Um tântrika não tem chefes, líderes ou senhores e não se afina com nenhuma hierarquia vertical. Confia sim em sua capacidade de sentir e afirmar “eu e meu Pai/Mãe somos Um”, e assim pensar e agir em consonância com esta perspectiva.

Este clã de tigres e leoas se aninha horizontalmente em um círculo, uma mandala de respeito e cooperação mútuo. Um aprende a honrar e dar suporte ao outro. Crescem juntos, pois sua inspiração vem de uma Fonte em comum, a Consciência Suprema. 

Os tântrikas renunciaram a todo e qualquer sentimento de classe, casta, grupo ou “-ismos”. A Consciência que os empodera é a clara luz da compaixão e os habilita a enxergar tudo como múltiplas formas do UM. 

Céu ou inferno são, para tais guerreiros, estados mentais advindos como consequência de suas ações certeiras, benevolentes e precisas ou equivocadas e egoístas. Sabem, todavia, que a Consciência Suprema é a realidade última, desprovida de qualquer dualidade e por isso não desenvolvem o anseio ou apego pela salvação e nem mesmo o medo da condenação. Tornam-se corajosos e responsáveis por seus erros e acertos, por seus pensamentos, sentimentos, palavras e ações e se esforçam para sintonizar suas frequências pessoais acima dos instintos básicos da sobrevivência animal – comer, dormir, reproduzir, temer e buscar abrigo seguro. Abrem-se para o Bhágavata Dharma, e o sentido da vida se torna “a autorrealização e o serviço à humanidade e a todos os seres”.

Os átomos, os planetas, o sol, as estrelas, as galáxias, assim como toda a massa negra que sustenta o Cosmos são sentidos pelos yogues como seu corpo maior, o corpo da Consciência Suprema e, as mais diversas esferas espirituais são ações desta amorosa Mente Cósmica Transcendental. Tudo é a morada do Pai/Mãe Supremo e por isso todos os sentimentos relacionados à nacionalidade, localidade, etnia ou grupo se dissolvem. Estando rodeado por perfumadas e macias pétalas, ou por espinhos cortantes, num ambiente conhecido e acolhedor ou como estrangeiros, os tântrikas relembram suas mentes a todo instante de que não há nada a temer na morada do Supremo, avançam corajosamente, e em sua marcha infinita encontram o paraíso onde quer que estejam. Carregam em suas mãos as tochas flamejantes da “compaixão destemida” e oferecem o calor deste fogo sagrado a toda e qualquer criatura que necessite de abrigo e deseje acender-se nesta chama.

Os tântrikas, por fim, reconhecem seus corpos físicos e mentais como instrumentos preciosíssimos – mesmo que temporários – e cuidam deles com total apreço através das mais diversas técnicas, sejam elas asanas, pranayamas, meditação, danças, artes marciais, alimentação adequada, relaxamento, etc... Cada yogue descobre a cada momento “presente-perfeito” qual o recurso e técnica mais apropriado para manter seu vaso de ouro em puro lustro sabendo que deve utilizá-lo ao máximo para seu próprio desenvolvimento e para o serviço a todos os seres e, por fim, quando este vestuário não mais lhe serve, dele despe-se desapegadamente e segue para sua próxima aventura em qualquer forma que couber à criadora e criativa Consciência Suprema lhe conceder.

Nas palavras de Anandamurti, sigam em frente tirando dos seus pés todos os obstáculos rumo à Realização Suprema. Vocês são filhos e filhas da Entidade mais poderosa de todo o universo. Vitória para todos vocês... Jay!


Por Rogério Satyavan
8 de Março de 2014, Caraguatatuba, SP

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

QUINZE PONTOS PARA FORMAR O CARÁTER

1. Praticar o perdão.
2. Praticar a magnanimidade de mente.
3. Controlar sua conduta e temperamento.
4. Trabalhar para a melhoria social.
5. Manter autocontrole interno.
6. Manter conduta doce e sorridente.
7. Praticar coragem mental.
8. Dar exemplo com sua própria conduta.
9. Abster-se de criticar aos outros.
10. Seguir Yama e Niyama.
11. Praticar autocorreção de seus erros.
12. Manter-se livre de ódio, raiva e vaidade.
13. Abster-se de falar desnecessariamente.
14. Seguir estritamente as disciplinas.
15. Ter senso de responsabilidade.

Shrii Shrii Anandamurti

Ashtaunga Yoga e os Princípios Éticos

O Yoga dos Oito Ramos


O Yoga Clássico recebe o nome de “Ashtaunga Yoga” e foi sistematizado pelo yogue Patanjali, que viveu entre 200 a.C. a 400 d.C. Ashta significa “oito” e Aunga, “partes, ramos ou membros”. Os “Oito Ramos do Yoga” são respectivamente:

1) Yama - Comportamento Social
2) Niyama – Disciplinas Pessoais
Bem-estar pessoal e social
3) Asana – O Corpo
4) Pranayama – A Respiração
5) Pratyahara – Os Sentidos
Bem-estar físico
6) Dharana – Concentração
7) Dhyana – Meditação
8) Samadhi – Liberação
Bem-estar mental

Trata-se de um sistema completo para o autodesenvolvimento do indivíduo que busca aperfeiçoar-se tanto nas esferas pessoais – seu corpo, mente e espírito, assim como em sua conduta social e universal, ou seja, a base ética da qualidade das relações que estabelece com o mundo ao seu redor – que espelham e refletem o gentil e corajoso esforço de refinar-se interiormente.

No sistema clássico do Yoga, os Princípios Éticos Universais chamados de Yama e Niyama, são as bases para se ingressar e então avançar com segurança nas práticas de autodesenvolvimento. Isto por que auxiliar um indivíduo desprovido de ética e compaixão a expandir suas capacidades físicas e seu poder mental certamente acarretará em seu próprio infortúnio assim como levará ao sofrimento as pessoas e demais seres ao seu redor. (Haja visto o resultado das ações de políticos, militares, religiosos e empresários poderosos, desprovidos de ética e compaixão, que levam toda uma sociedade e a natureza ao padecimento pela exploração, desigualdade, alienação, violência e injustiça).

Assim sendo, ao aspirante que deseja iniciar-se na senda do Yoga, é requerido um exame sincero de consciência que o leve a refletir sobre sua afinidade natural com os princípios éticos de Yama e Niyama. Caso encontre a si mesmo despreparado para avançar, é sugerido que busque instruções de como refinar-se no caminho da compaixão, dedicando parte de seu tempo e energia a servir, desinteressadamente a pessoas e seres em sofrimento.

É uma sugestão difícil para este tempo em que a mentalidade mercantilista, acostumou-nos a acreditar que temos direito a tudo por termos dinheiro para pagar e comprar. Todavia, no campo da espiritualidade sincera e verdadeira, não há moeda mais valiosa que a simplicidade, a humildade e a compaixão, que não podem ser adquiridas por meio de valor material algum, somente por experiências pessoais de dedicação e serviço desinteressado ao próximo e à criação em sofrimento.


Os Princípios de Ética Universal – Yama e Niyama


 YAMA (Princípios de Ética Social)


1. AHIMSA – significa não ferir ou magoar intencionalmente nenhum ser, mesmo lhes causar sofrimento através de pensamentos, palavras ou ações.

2. SATYA – consiste em usar a mente e as palavras com propósitos benevolentes, mantendo o espírito da verdade.

3. ASTEYA – significa abster-se do desejo de tomar ou manter objetos alheios; Asteya significa não roubar.

4. BRAHMACARYA – consiste em manter a mente absorta em Brahma – a Consciência Suprema – a todo instante.

5. APARIGRAHA – é abster-se de coisas supérfluas e desnecessárias à manutenção do corpo. Levar uma vida simples.


NIYAMA (Princípios de Ética Pessoal)


1. SHAOCA – limpeza do corpo e da mente. Os métodos para a purificação mental são: benevolência para com todos os seres, serviço e dedicação ao bem-estar dos outros e ser sempre prestativo.

2. SANTOSA – significa manifestar contentamento em relação a tudo o que lhe for dado, mesmo com aquilo que não foi desejado. É importante manifestar alegria constante.

3. TAPAH – consiste em suportar as provações físicas para alcançar a meta. As formas de fazer tapah são: upavasa (jejum), serviço ao Guru (Preceptor), serviço aos pais e yajina. Há quatro modalidades de yajina: pitr yajina (serviço aos ancestrais), nr yajina (serviço à humanidade), bhuta yajina (serviço aos seres inferiores) e adhatma yajina (serviço à Consciência Suprema). Para os estudantes, o estudo é a principal forma de tapah.

4. SVADHYAYA – significa estudar e busca compreender profunda e apropriadamente as escrituras e os livros filosóficos.

5. IISHVARA PRANIDHANA – é ter firme confiança implícita em Iishvara – o Controlador Cósmico -, seja no prazer, seja na dor, na prosperidade e na adversidade, e perceber a si mesmo, em quaisquer atividades da vida, como um instrumento e não como o controlador do instrumento.


Por Rogério Satyavan – 12/03/2014



PARA REFLETIR

Princípios de harmonia com os outros:

Não Ferir1. Respeitar aos outros é importante para mim?
2. Eu sinto dor quando causo dor aos outros ou vejo alguém sofrer?
3. Eu tento não alimentar pensamentos negativos sobre ninguém?
4. Eu tento esquecer aqueles que me causaram algum dano e não sou vingativo?


Verdade1. Eu tento usar as palavras de modo que as pessoas sintam-se alegres e felizes?
2. Sou paciente com os outros e não uso palavras ásperas ou ofensivas mesmo quando aborrecido?
3. Nunca revido, calunio ou comento e não faço brincadeiras de mal gosto ou coisas desse tipo?
4. Eu sei quando e como ser diplomático para não ser inconveniente à outros?


Não Roubar1. Respeito a propriedade alheia e não pego nada que não me pertence?
2. Não invejo o sucesso dos outros?
3. Não trapaceio nem calunio ninguém?
4. Nada tomo nada emprestado sem pedir permissão e sem consentimento?


Vida Simples1. Tento manter minha vida simples e natural e não procuro luxuria desnecessária para a vida?
2. Não tenho interesse em ter mais do que necessito?
3. Acredito que todos os seres vivos são membros de uma grande família e que todos devemos cuidar
uns dos outros?
4. Tento não me apegar a meus pertences ou a outros objetos materiais?


Conhecimento Espiritual1. Eu me sinto constantemente guiado por um elevado e benevolente poder. Sinto que nunca estou só?
2. Reconheço não haver nenhuma distinção de classe, raça, sexo, cultura e vejo todos como irmãos e irmãs?
3. Mesmo convivendo com o mundo material, tento manter minha mente absorta em pensamentos elevados e vejo todas as entidades como expressões do Infinito?
4. Não importa o que aconteça, sinto que estou movendo-me em um fluxo cósmico e que tudo acontece para o melhor?


Princípios de harmonia para consigo mesmo:


Pureza1. Mantenho a pureza do meu corpo, inclusive selecionando os alimentos que como?
2. Procuro não deixar que minha mente polua-se com pensamentos negativos ou emoções negativas como:
raiva, inveja, cobiça, etc?
3. A limpeza e ordem do ambiente em que vivo refletem a disciplina e conduta mental?
4. Tento não deixar minha mente degradar-se ou perturbar-se?


Equilíbrio Mental1. Procuro manter minha mente num estado de perpetua paz e, mesmo perturbado ou numa situação
constrangedora, eu raramente me aborreço?
2. Quando é necessário retificar erros ou agravos sempre mantenho minha mente equilibrada?
3. Nada é rotina ou chato para mim, vivo todos os dias com prazer?
4. Sinto-me em casa e tranqüilo em qualquer lugar?


Serviço desinteressado1. Tento atender as necessidades de outras pessoas fisicamente, mentalmente e espiritualmente, mesmo
através de meus proprios sofrimentos e privações?
2. Posso dar aos outros sem esperar nada em troca?
3. Faço uso de discernimento quando sirvo aos outros, assim meu serviço rende o máximo de benefícios?
4. Sinto-me feliz pelas oportunidades de servir aos outros e tento ver aqueles à quem sirvo como expressão da Consciência Infinita?


Estudos espirituais1. Tento ler temas elevados diariamente?
2. Quando leio, tento compreender o verdadeiro significado dos temas espirituais?
3. Não me engano ou confundo com dogmas irracionais?
4. Tento interiorizar as idéias elevadas que leio e aplico-as em minha vida diária?


Meditação1. Meditação é a parte mais importante do meu dia?
2. A meta da minha vida é a auto-realização e tento dirigir meus pensamentos e ações para esta meta?
3. Minha satisfação maior vem de dentro de mim?
4. Faço um esforço sincero e contínuo para reunir toda a energia difusa da minha mente e focalizar na consciência interna?

terça-feira, 2 de julho de 2013

Mahamudra de Tilopa

A Instrução Mahamudra para Naropa em Vinte e Oito Versos

A Instrução Mahamudra para Naropa em Vinte e Oito Versos foi transmitida pelo grande mestre e mahasiddha Tilopa ao pandita, sábio e siddha de Kashmir, Naropa, próximo aos bancos do rio Ganges, após completar suas doze austeridades. Naropa transmitiu os ensinamentos em sânscrito, na forma de vinte e oito versos, ao grande tradutor Marpa Chökyi Lodrö, que fez uma tradução livre deste texto em sua vila, Pulahari, na fronteira do Tibet com o Butão.

Homenagem aos Oitenta e Quatro Mahasiddhas!

Homenagem ao Mahamudra!

Homenagem à Vajradakini!



[1] O Mahamudra não pode ser dito, mas ó inteligente Naropa,

Como você passou pela austeridade rigorosa,

Com tolerância no sofrimento e devoção ao mestre,

Ó abençoado, guarde esta instrução secreta em seu coração.


[2] O espaço é suportado em algum lugar? Sobre o que ele repousa?

Como o espaço, o Mahamudra não depende de coisa alguma;

Relaxe e se assente no continuum da pureza indestrutível

E, com as amarras soltas, a liberação é certa.


[3] Olhando concentradamente para o céu vazio, a visão cessa;

Do mesmo modo, quando a mente olha para a própria mente,

Termina o treinamento do pensamento discursivo e conceitual

E a iluminação completa é obtida.


[4] Assim como a neblina da manhã se dissolve no ar,

Indo a lugar nenhum mas cessando de ser,

As ondas da conceitualização — tudo criação da mente — se dissolvem

Quando você observa a verdadeira natureza de sua mente.


[5] O espaço puro não tem cor ou forma

E não pode ser manchado de preto ou branco;

Assim também, a essência da mente está além da cor e da forma

E não pode ser manchada por ações negras ou brancas.


[6] A escuridão de mil eras não tem poder

Para ofuscar a claridade de cristal do coração do sol;

E do mesmo modo, eras de samsara não têm poder

Para encobrir a luz clara da essência da mente.


[7] Apesar do espaço ser designado de vazio,

Na realidade ele é inexprimível;

Apesar da natureza da mente ser chamada de luz clara,

Sua própria atribuição é uma ficção verbal sem base.


[8] A natureza original da mente é como o espaço;

Ela permeia e abraça todas as coisas sob o sol.

Seja calmo e permaneça relaxado no conforto genuíno,

Seja quieto e deixe o som reverberar como um eco,

Mantenha silenciosa a sua mente e assista o fim de todos os mundos.


[9] O corpo é essencialmente vazio, como um tronco de junco,

E a mente, como o espaço puro, transcende absolutamente o mundo do pensamento;

Relaxe em sua natureza intrínseca, sem abandono ou controle —A mente sem objetivo é o Mahamudra

—E, com a prática perfeita, a iluminação suprema é obtida.


[10] A luz clara do Mahamudra não pode ser revelada

Pelas escrituras canônicas e tratados metafísicos

Do Mantravada, das Paramitas ou do Tripitaka;

A luz clara é encoberta pelos conceitos e idéias.


[11] Nutrindo preceitos rígidos, o verdadeiro samaya é enfraquecido,

Mas com a cessação das atividades mentais, todas as noções fixas se apaziguam;

Quando a maré do oceano é una com suas profundezas pacíficas,

Quando a mente nunca se desvia da verdade indeterminada e não-conceitual,

O samaya inquebrável é como uma lâmpada acesa na escuridão espiritual.


[12] Livre dos conceitos intelectuais, desaprovando os princípios dogmáticos,

A verdade de cada escola e escritura é revelada.


[13] Absorvido no Mahamudra, você está livre da prisão do samsara;

Equilibrado no Mahamudra, a culpa e a negatividade são consumidas;

E como um mestre do Mahamudra, você é a luz do Dharma.


[14] O tolo em sua ignorância, desprezando o Mahamudra,

Nada conhece além da luta na inundação do samsara.

Tenha compaixão por aqueles que sofrem de constante ansiedade!

Doente de um sofrimento inflexível e desejando a liberação, adira a um mestre,

Pois quando a bênção dele tocar o seu coração, a mente é liberada.


[15] Kyeho! Ouça com alegria!

O investimento no samsara é fútil; é a causa de cada ansiedade.

Já que o envolvimento mundano é inútil, procure o coração da realidade.


[16] Na transcendência das dualidades da mente, está a visão suprema;

Em uma mente calma e silenciosa, está a meditação suprema;

Na espontaneidade, está a atividade suprema;

E quando todas as esperanças e medos falecem, a meta é alcançada.


[17] Além de todas as imagens mentais, a mente é naturalmente clara:

Não siga outro caminho que não seja o dos buddhas,

Não aplique técnica alguma para obter a iluminação suprema.


[18] Kyema! Ouça com simpatia!

Com a sabedoria em seu lamentável predicamento mundano,

Percebendo que nada pode durar, que tudo é como um sonho,

Como uma ilusão sem significado, que provoca frustração e aborrecimento,

Retorne e abandone suas buscas mundanas.


[19] Corte o envolvimento com sua terra natal e seus amigos

E medite sozinho em um retiro na floresta ou na montanha;

Fique lá em um estado de não-meditação

E, atingindo o não-atingimento, você atinge o Mahamudra.


[20] Uma árvore estende seus galhos e põe folhas,

Mas quando sua raiz é cortada, sua folhagem seca.

Assim também, quando a raiz da mente é cortada,

Os galhos da árvore do samsara morrem.


[21] Uma única lâmpada elimina a escuridão de mil eras;

Do mesmo modo, um único lampejo da luz clara da mente

Apaga eras de condicionamento kármico e cegueira mental.


[22] Kyeho! Ouça com alegria!

A verdade além da mente não pode ser compreendida por qualquer faculdade mental;

O significado da não-ação não pode ser compreendido pela atividade compulsiva;

Perceber o significado da não-ação e do além-mente

Corta a mente em sua raiz e repousa na consciência nua.


[23] Permita que as águas barrentas da atividade mental se clareiem;

Refreie tanto a projeção positiva quanto a negativa —

Deixe as aparências sozinhas.

O mundo dos fenômenos, sem adição ou subtração, é o Mahamudra.


[24] A onipresente base não-nascida dissolve seus impulsos e delusões;

Não seja convencido ou calculista, mas repouse na essência não-nascida

E deixe se dissolver todos os conceitos de si mesmo e do universo.


[25] A mais elevada visão abre cada porta;

A mais elevada meditação sonda as profundezas infinitas;

A mais elevada atividade é não-governada, porém decisiva;

E a mais elevada meta é o ser comum, sem esperança ou medo.


[26] No começo, seu karma é como um rio caindo em um desfiladeiro;

No meio, ele flui como um rio Ganges serpenteando gentilmente;

E no fim, assim como um rio se torna um com o oceano,

Ele termina na consumação, como o encontro de mãe e filho.


[27] Se a mente for estúpida e você for incapaz de praticar estas instruções,

De reter a respiração essencial e expelir a seiva da consciência,

De praticar olhares fixos — métodos de focalizar a mente —,

Discipline-se até que o estado de consciência mental se estabeleça.


[28] Quando servir a uma consorte, a consciência pura do êxtase e da vacuidade surgirá.

Disposto na abençoada união da sabedoria e dos meios hábeis,

Envie a bodhichitta vagarosamente baixo, retenha-a, retraia-a para cima

E, conduzindo-a à fonte, sature o corpo inteiro.

Mas essa consciência surgirá apenas se o desejo e o apego estiverem ausentes.

Então, obtendo a jovialidade da vida longa e eterna, crescente como a lua,

Radiante e clara, com a força de um leão,

Você obterá rapidamente o poder mundano e a iluminação suprema.


Possa esta instrução essencial do Mahamudra Permanecer nos corações dos seres afortunados.



domingo, 5 de maio de 2013